O céu encontra-se em tons laranjas...simplesmente maravilhoso. Eu estou na praia com a água apenas a molhar-me os pés, sentada à beira mar como uma criança à espera dos pais no fim de um dia de escola...mas não sei pelo que espero. A praia está quase vazia, ao longe, observo ainda dois ou três chapéus de sol...
Eu levanto-me, e vou avançando na direcção contrária ao suave vento daquele fim de tarde que me deixou pela praia. Não tenho música, mas vou trauteando a subir de som algumas músicas conhecidas que assentam tão bem naquele pôr-do-sol que parecem feitas para aquele momento!...
As pequenas ondas beijam-me os pés e chegam-me aos joelhos, e acompanham-me ao longo do pequeno pedaço de costa que vou percorrendo, ali, sinto-me livre e leve. Sinto-me capaz de voar como as gaivotas que passam em direcção às redes da pesca rústica que ali serve de sustento aos antigos pescadores.
Ao longe avisto um casal: é feio e desconfortável ficar observando as pessoas, mas eu não me controlo e fixo-me neles...tantos carinhos que se partilham em segundos, tantas palavras que se dizem num olhar, quantos sentimentos não se transmitem num sorriso!... E assim passam segundos, minutos, horas... e o sol vai-se pondo num horizonte que naquele dia chegou a tocar o céu, confundindo-se e fazendo uma fusão de cores semelhantes.
Por cima de mim, nuvens que anunciam bom tempo para amnhã, abraçam-me para que repare nos encantos do céu e me desconcentre da missão de espiar "o amor"...Eu cedo: o céu está lindo, o mar está calmo, a praia está vazia e o vento indica-me a hora de deixar aquela beleza repousar para no dia seguinte se repetir tudo de novo, como se a própria natureza possuísse uma rotina diária.
As estrelas aparecem com o desejo de que eu faça o meu pedido, mas desta vez eu despeço-me da areia e do som do mar de fim de tarde...o anoitecer aproxima-se e o meu par de sapatinhos de cristal ficou perto do mar...e eu só digo, em tom baixo e admirando a primeira estrela "Até amanhã".
Disse Gandhi uma Vez "Que a verdadeira obra de arte da vida é fazer da vida uma obra de arte"...e quando dizemos "a minha vida não presta", ou coisas semelhantes temos de nos lembrar que a vida somos nós que a fazemos, as decisões somos nós que as tomamos...consequências, prós e contras sempre haverá em cada acção nossa cabe-nos a nós decidir o quais serão e as suas influências!
Ao lerem este texto, pensem como se as memórias fossem um livro já lido, o presente fosse o que desejam e o futuro fosse uma dádiva. Durante este ano lectivo conheci um novo poema, que me fez pensar no que éramos, somos e seremos...no que já vivemos e viveremos, pois a cada milésimo de segundo há passado, presente e futuro.
O poema chama-se Amén e é de José Régio do livro "Encruzilhadas de Deus".
"No circo cheio de luz Há tanto que ver!...
(...) (E eu sou aquele palhaço Com listras!, e estardalhaço, Chamando público...)
(...) Uma bailarina dança. (...)
Os seus movimentos de hoje São, talvez, iguais aos de ontem, Aos olhos de quem não vê Que o gesto feito uma vez Já se não faz como fez.
Ai!, a vida! E eu que ouvi que a vida é um dia! Mas acaba e principia A cada instante do dia...
(E eu também sou bailarino: Também danço!; Também não tenho descanso; Também cá vivo fingindo Que só vivo repetindo, Muito embora Saiba como a toda a hora Vario e crio, Ruo e fluo, Como um rio...)
Na plateia, um homem bêbado Tem olhos vítreos do vinho.
(...) Que mentira e que verdade Que é a vida!
(E eu sou, também, esse bêbado Que a força de desejar Transformou em realidade O seu desejo. Na verdade..., Sim, na verdade, não vejo Porque me não enganar...)
O acrobata, que belo, Cinturado de amarelo!
(...)
Ai!, a vida! Poema da Tentação...
(E eu sou aquele acrobata: Não subi nem me exibi; Não me tapei de amarelo, Nem meu corpo é de oiro e prata, Nem eu sou belo... Tenho dó de não ser belo! Mas sou aquele acrobata.)
Ri, palhaço!
O palhaço entrou em cena, Ri, cabriola, rebola, Pega fogo à multidão.
Ri, palhaço!
Corpo de borracha e aço, Rebola como uma bola, Tem dentro não sei que mola Que pincha, emperra, uiva, guincha, Zune, faz rir!
Ri, palhaço!
Ri..., ri de ti para os outros, Ri dos outros para ti, Ri de ti para ti... ri!, Ri dos outros para os outros..., Ri, arre!, ri, irra!, ri!
Não!, que não!, que eu não lamente Quem então, mesmo que o tente, Não deixa de se exprimir Tão brutalmente.
Palhaço, ri!
Eu não sei ter dó de ti: Por miserável que seja, Não se tem dó do que é belo.
(... Porque, Será preciso dizê-lo?, Também sou esse palhaço Feito de borracha E aço...)
Ai!, a vida! Que trambolhões na subida, Que ascenções pela descida...!
Entre os mil espectadores, Encolhido, Pequenino, — Meu menino, ino, ino... —
(...)
Que linda história de fadas Se não vai desenrolando!, Com princesas encantadas Desencantadas, E jovens reis escalando Que muralhas invencíveis Ao ritmo de árias terríveis, Enquanto um príncipe excêntrico Engole espadas e chamas, Vem divertir o seu povo, Trava prélios Com dragões, Gigantes, Bruxas, Anões, —Criações Dum mundo novo...
Ai!, a vida! Maravilhosa historieta!
(E eu sou aquele menino: Sou poeta...)
(...)
Do outro lado da arena, Certa cara mascarada (...)
Porque está ali essa máscara, Sozinha na multidão, Fechada no seu caixão De solidão e silêncio?...
E ai, minha mãe e meu pai!, Todos que me quereis... ai Que eu sou também, afinal, Todo esse frio mortal...!
... Porque eu sou tudo!, — afinal.
E, mais do que bailarino, Palhaço, acrobata, menino, Bêbado ou esfinge, sou A terra, O chão que eles pisam, E o pó que sobe e os envolve... Moro lá em baixo, enterrado, Muito lá em baixo!, e calado. Pairo por cima ondulando, Ando No ar Espalhado...
Ai!, a vida!
Que a vida não tem limites, E quem vive não tem paz, Menino, por mais que sonhes!, Por mais que desejes, bêbado!, Palhaço, por mais que grites!, Por mais que vás, acrobata!, Por mais que vás...!
Ai!, a vida!
... Assim, me surge tão bela, Tão digna de ser vivida, Sorvida Até se esgotar, Que eu sei que é faminto dela Que me hei-de matar."
Com certeza já ouviram este lema em algum lugar... "A vida são dois dias, faz directa", agora mostro-vos algo que também não é novo:
"A vida é curta: quebra as regras, perdoa rápido, beija devagar, ama honestamente, ri descontroladamente, e nunca te arrependas de nada do que te fez sorrir."
De repente o céu ficou tão de dia como se não existisse noite, só pela força do brilho das estrelas que me juram não existir!
Não sei o que ouço, o que sinto, o que vejo, o que cheiro..., são notas clássicas com gritos, é calor e frio, sombras coloridas por onde passo aromatizando o ar com uma essência a mar misturado com manhã de chuva.
Sinto-me uma personagem dos filmes de Charlie Chaplin a passar por cima de um arco-íris num mundo diverso de sons, sabores, essências...
Dou um passo em frente: muda-se o som para algo mais afinado com um ligeiro conjunto de violinos a tocar lá ao fundo em pianíssimo, sinto a temperatura a ficar diferente como se passa-se do Sahara para a Amazónia, com a cegueira provocada pelas estrelas imagino a formação de unicórnios, fadas e pó-mágico que cai a colorir-me e, finalmente, alteram-se as essências, para um cheiro a fruta exótica, dando para saborear o próprio aroma com trago a ananás, manga, papaia...!
Impressionante como um simples flash demorado de estrelas projecta tanta coisa.