Mistérios de areia
Diz-me que sim. Diz-me que vens. Diz-me que queres vir. Preciso de ti, do teu abraço, do meu porto de abrigo. Levar-te para junto do mar, sentir as ondas rebentarem nos nossos pés ao mesmo tempo, como se fossemos um só. Olhando, juntos, para o mesmo horizonte que representa o nosso próprio horizonte, o nosso "há-de vir", o nosso futuro. Pisando, descalços um areal cheio de mistérios: tantos mistérios quantos os nossos segredos, tantos mistérios quanto os nossos medos, tantos mistérios quanto as nossas memórias.
Não é à toa que aqui estou eu sozinha, agora. Não é à toa que olho para esse mar que um dia será nosso, que sinto essas ondas que por agora inundam os meus pés e apenas os meus, não é por acaso que me sento nestes mistérios.
Na verdade, não é assim tão difícil imaginar um futuro onde partilhamos os oceanos e as areias do mundo. Não é difícil olhar para um futuro sem fim e criar uma analogia com o horizonte infinito e discreto que descreve o encontro entre um dos mares dos nossos futuros oceanos e o céu que nos abraça e nos une. Difícil é não te ter aqui comigo, não conseguir tocar-te. Difícil é não saber quando estarei aqui contigo, para sentirmos juntos este mar de emoções, esta onda de saudade, que quando aqui estiveres se transformará numa onda de desespero. Desespero de ficar sem ti. Uma onda que beija o chão que pisaremos, e que deixará de ser de desespero, depois. Aliás, uma onda que rebentará nesse desespero e me trará paz. Paz porque te terei comigo. Plenitude porque poderei mostrar-te tudo isto. Toda esta praia. Todo um paraíso outrora criado para o mundo e que o mundo me deu, talvez mesmo sem saber... ou talvez eu lho tenha roubado. Um paraíso que é meu por agora, mas que é teu também. Um paraíso que já é teu e do qual já fazes parte. Um paraíso com o nosso "era uma vez" escrito no sítio onde o mar beija a terra, protegido pelo brilho do Sol que abraçará o mar até ao dia da tua chegada. Só depois se fará noite. Até lá o tempo parou para me ver sonhar.