Eu e as as minhas manias, as minhas manhas, os meus sonhos, as minhas decisões, as minhas vontades, os meus desejos, os meus quereres e creres, a minha rota e tudo o que mais fizesse parte mim, mas só de mim.
Mas o destino, o fado, Deus ou um outro deus qualquer, as fadas, os feiticeiros, as estrelas ou os astros ou o que quer que mexa connosco não o quis dessa forma.
Quiseram-me diferente, acharam-me incompleta, acharam-me talvez perdida e desnorteada. Acharam-me pouco eu.
Ficaram as minhas manhas, com as tuas e apareceram as nossas manhas. Os nossos sonhos. Os nossos desejos e vontades. A nossa rota. Nosso. Nossa. Nós. De cada um e dos dois.
Fiquei eu. Ficaste tu. Ficámos eu e tu. Ficamos nós. Sim, ficámos nós os dois.
Ambos aficionados um pelo outro, aliados, apaixonados, alienados, agrilhoados numa liberdade incondicional, contidos numa felicidade incontestável, incontrolável, incomparável. Indescritível.
Tipo história de encantar, tipo "era uma vez" e "viveram felizes para sempre", tipo última cena de filme, último episódio de novela, poema de Shakespeare, canção de amor. Tipo um oceano lírico, uma página de um romance... Romântico. Tipo dois em um, meio termo, frio e quente, escuro e claro, grande e pequeno, longe e perto, alto e baixo, redondo e quadrado, cheio e vazio, tudo e nada.
Eu e tu.
E todas as antíteses que nos descreverem.
E assumi-te como parte de mim, fazendo-me parte de ti. Completando-me, completando-te, criando-NOS.
Como quem não deseja que o mundo pare, mas quer por alguns momentos em pausa, segui-te.
Meia desengonçada, meia discreta, um tanto ou quanto direta, um pouco insegura, segui-te enamorada. Segui-te como quem não quer perder alguém, mas não conhece outro meio de prender. Segui-te como se o mundo não respirasse amanhã, como se ainda naquele dia ele deixasse de existir.
E tu seguias o mundo, seguias os caminhos do mundo, desvendavas vielas do mundo, desbravavas trilhos do mundo. Tu seguias no mundo.
Inesperadamente, abrandaste o passo. Paraste. Ergueste a cabeça. Olhaste o céu. Inspiraste. Aliás, inspiraste como se do último suspiro se tratasse. E talvez fosse o teu último suspiro... pelo menos como te conhecias. Como eu te conhecia. Como o mundo te conhecera.
Eu fiquei ali. Parei. Olhei-te. Suspirei também (tão bem). Suspirei como se fosse o meu último suspiro. Último, claro, antes do primeiro. Do meu primeiro suspiro. Contigo.
E depois desse suspiro viriam mais e mais. Viriam respirações próximas, respirações afastadas, inspirações, expirações, respirações apaixonadas. Algumas magoadas, algumas nervosas, ofegantes, satisfeitas, maravilhadas, animadas, entusiasmadas, (des)controladas. Perdidas... sem ti. E tantas vezes encontradas em ti.
Ficaste ali. E, claro, eu seguia-te e ali fiquei também. Tu miraste o céu. Eu (ad)mirei-te a ti. Ao teu à vontade, ao teu corpo, à tua silhueta, à tua forma de estar. Decorei todos os teus contornos visíveis com a pouca luz de uma sombra de dia de verão nublado. Imaginei os outros. (Suspirei) E apaixonei-me mais algumas vezes por ti.
Decidiste ficar por ali. Por aqui. Viste-me e sorriste. Andaste na minha direção, caminhaste para mim. Seguiste-me.