Quando o amor é mais forte
É nestas alturas que muita gente devia pensar duas vezes antes de dizer que os animais não percebem, não sentem, não "são".
A matriarca cá de casa, a quem de há uns anos para cá apelidámos carinhosamente de Velhinha, está nitidamente (e de forma triste mas inevitável -como para todos nós) a chegar ao fim de uma vida que todos cá em casa esperam que tenha sido o mais feliz que poderia ter sido... E que, bem ou mal, todos cá em casa têm a certeza de ter sido muito melhor do que a de muita gente que anda para aí. Mas a verdade é que ninguém é eterno. E digo "ninguém" , porque não a posso - nem a ela nem a nenhum animal - categorizar como "nada".
A nossa menina tem muitos anos (cerca de nove/dez, se as contas não me falham) e está connosco desde que estamos nesta morada: foi fruto da primeira ninhada que aqui nasceu algum tempo depois de nos termos mudado para cá. Nunca foi muito bonita, tirando aqueles olhos azuis-céu, mas como a aparência não importa nos animais, tivemos a felicidade de a ver ser progenitora algumas vezes e Mãe (com um grande M maiúsculo) mais vezes ainda. Podemos dizer com orgulho que todos os nossos meninos a adotaram como mãe, a respeitam e tiveram dela todo o carinho que podiam ter (inclusivamente, a nossa Velhinha não tem uma das tetinhas porque quando ficava a tomar conta de uma ninhada de gatinhos de outra menina cá de casa, os bebés chuchavam na dela).
Com a idade chegam, inevitavelmente, as doenças que o nosso corpo deixa de ter força para evitar e combater e a nossa matriarca está magra, doente e até sem força numa das patas. Come pouco, dorme muito. Continua a procurar mimo. Continua a procurar-nos como sempre procurou... Mas temos muitos animais e pouco tempo para eles todos.
A outra menina da foto com ar de sedutora, olho cor de alface e nada igual à Velhinha, é a Vicky, a sua filha mais nova. Tem pouco mais de um ano e foi a única sobrevivente da sua última ninhada, a quem da idade não conseguiu sequer dar de mamar. Acompanhou-a e ensinou-lhe algumas coisas, mas rapidamente a deixou viver a vida de gata jovem que outrora ela viveu. Deixou-a entregue aos outros companheiros (e cãopanheira) cá de casa, nas suas peripécias, aventuras e brincadeiras. A Velhinha deixou de ter paciência para brincadeiras e jovens. A Vicky tornou-se pré-adulta. Ligavam uma à outra como a qualquer outro animal cá de casa.
Mas, como os animais são uns seres irracionais, que não pensam e não sentem, a Vicky não larga a mãe de há uns tempos para cá: dá-lhe banho, dá-lhe mimo, acompanha-a nas sestas, ronrona ao lado dela... Dormem, literalmente, abraçadas.
Infelizmente, ninguém é eterno e em breve iremos ter de nos despedir da nossa mais velha... Mas agradeço a Deus todos os dias ter criado seres como estes e proporcionar-me momentos com eles que nos mostram o quão pequeninos e ignorantes somos quando achamos que eles são o que muita gente diz e agradeço também ter a oportunidade de captar estes momentos e de poder partilhá-los. A natureza ensina-nos muito, só temos de estar despertos para aprender e eu sou tão grata por isso!
Seja amizade, seja compaixão ou sejam os laços familiares que as unem, mas a verdade é que esta proximidade repentina entre elas têm de ter um significado.
Sou de evitar temas polémicos, mas há alturas em que não podemos retrair o que pensamos.
Resta apenas dizer que, felizmente, cada vez mais somos mais a pensar neles e a defender quem não tem não tem voz. Cada vez eles ganham mais importância... a importância que merecem.