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#EsteOutroMundo

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Calor gelado

Encho o peito de ar e preparo-me para um novo dia, ainda entre cobertas. Sinto que está sol, aquele sol demasiado brilhante que adivinha um dia de outono um pouco mais frio. Levanto-me meia adormecida e sigo a cambalear para a janela. Confirma-se: "olá meio outono, até já inverno". O dia passa da mesma forma com que tiro o pijama e enfrento a brisa assolapada que me cumprimentou quando deixei a cama.

À noite, acrescenta-se mais um tom de amarelo à sala com o fogo da lareira e, como se o calor que sai não fosse suficiente, aquela cor no ambiente aquece também... É estranho como passo o dia bem aconchegada com camisola de lã, deserta para me aquecer na lareira ao chegar a casa, mas parece que nenhum calor é suficiente para me aquecer a alma. Falta um outro tipo de aconchego, falta um outro tipo de ambiente, um outro tipo de calor.

Por mais roupa que vista, fico com frio. Por mais aquecida que tente estar, continuo tremeliquenta. Por mais energia que tenha, o frio gela-me os movimentos.

E eu mantenho-me aqui. Mantenho-me gelada neste espaço aquecido e amarelado, neste espaço aconchegante e frio. Num espaço que não me diz nada, mas devia dizer tudo. 

 

Encho o peito de ar e preparo-me para um novo serão, entre o som de uma televisão muda em ambiente familiar e conversas diversas. As horas passam despercebidas e eu encho o peito de ar e preparo-me para acordar amanhã, entre cobertas que deveriam aquecer. Mas o frio cerca-me e incomoda-me como se estivesse no meio de um lago gelado em roupas de verão e as correntes de ar devem sentir-me solitária e teimam em acompanhar-me durante a noite. Componho-me aos rebolões e experimento 500 posições. Perco para o cansaço de mais um dia arrefecido pela ausência de algo. Adormeço.

 

E volto a perder, umas horas depois, para a força da rotina. Acordo, encho o peito de ar e preparo-me para um novo dia, ainda abraçada pelas cobertas incapazes de me proteger. Continua a passar para dentro do quarto uma luz solar que arrefece o olhar e que se confirma novamente quando me precipito para o exterior. Num abrir e fechar de olhos estou aconchegada de novo entre lãs, conversas, lareiras e cobertas mas com um frio quase gélido por dentro, que não me deixa aquecer. Falta um outro tipo de aconchego, falta um outro tipo de conversa, um outro tipo de aquecedor.

 

Faltas tu e as tuas palavras. Tu e o teu carinho. Tu e o teu toque. Tu e o aconchego do teu abraço. Acho que conseguiria sobreviver no meio de um lago gelado, se mergulhássemos os dois, desde que não te largasses de mim.

 

Mas agora que não estás e o inverno é mais frio. A primavera não aquece. O verão não existe. O outono estagnou entre umas horas timidamente quentes e uns dias a roçar o gelado.

 

Faltas só tu.

Ela apareceu.

"Ela é assim... Tem um ar de menina, pensamentos de moça e desejos de mulher. Não conhece o mundo como queria, mas vê o mundo como ninguém.

Ela quer algo real, mas não se esquece das estórias de encantar. Acredita no "viveram felizes para sempre", sonha com fadas e arco-íris e acredita no amor e acredita no cor-de-rosa. Não é ingénua, mas acredita no melhor do mundo, mesmo tendo noção do pior.

 

Ela vai sorrir com facilidade, vai emocionar-se com um vídeo simples, vai chorar no final de um livro e vai disfarçar com um comentário engraçado.

Ela não vai parar de sonhar só porque é (quase) impossível. Não vai deixar de acreditar só porque já falhou. Não vai deixar de sorrir só porque há coisas que não estão bem. Ela acredita em sorrir e no poder de um sorriso...

Ela acredita que tudo tem um lado positivo, por mais que pareça mal e em tirar o melhor dessa altura. Acredita na sorte e no azar, porque sem azar não há sorte... e ela tem tanta! Ela acredita pouco em coincidências: nem tudo acontece por acaso. Ela acredita no destino e em sinais. Ela acredita em pedir desejos às estrelas.

 

Ela exigirá sempre o teu máximo... não porque não esteja satisfeita, mas porque sabe do que és capaz e do quão feliz podes ficar quando chegares mais longe. Ela vai querer sempre mais: mais de ti, mais de vocês, mais do mundo, mais dela. Precisa disso. Mas, acima de tudo, mais amor e paz de espírito.

Ela nem sempre será uma princesa, mas podes acreditar que à tua frente será onde a verás mais perfeita e delicada.

Ela não é perfeita, nem nunca será, mas põe sempre o melhor dela em tudo que faz e faz o melhor que pode daquilo que lhe toca. 

 

E ela ama-te.

Ela ama-te sem perceber se é possível sentir mais do que o que sente por ti e surpreende-se a cada dia quando se apercebe que sim."

 

|| Abril de 2016.

Tempo para Tudo

O relógio não espera pela gente,

mas eu esperei por ti.

Deixo o tempo agora passar,

sem contar o que perdi.

 

Num sopro de nada, 

Num sopro de vento, 

Numa vida passada, 

Sem te ter como alento,

 

Numa gota de nada,

Numa gota de mar,

Numa história diferente,

Sem parar de sonhar.

 

O tempo não espera por nós,

Mas eu sempre esperei por ti.

Deixei o medo passar, 

Deixei de chorar, tentar.

Apenas sorri.

 

Sorri. Sorrio.

Continuarei a sorrir e a deixar sorrir.

Porque o tempo não esperou por mim, 

Mas eu sei o que foi preciso,

para conseguir sorrir assim

 

O tempo não espera pela gente, 

Mas eu acredito em mim, 

Acredito em ser diferente,

Acredito em chegar ao fim.

 

Num sopro de vento,

Num sopro de nada,

Eu esperei pelo tempo,

O tempo não me deixou parada.

 

Numa gota de mar, 

Numa gota de nada,

Deixando de lado o mundo,

Com a vida lançada.

 

Fiquei apenas eu

Apenas eu e o tempo mudo,

Com tempo para tudo.

 

[Tempo para Tudo, 2017] 

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