O tempo perguntou ao tempo
Ultimamente não temos tempo para nada. Vamos de casa para o trabalho e do trabalho para casa em modo robô, quase que não precisamos de ver o caminho... Quantas vezes chegamos ao destino e não nos lembramos de ter passado em certo lugar que sabemos que temos de ter passado?
Ontem estava com pressa de chegar a casa, tinha horário marcado e saí a horas do trabalho, mas o autocarro atrasou, havia trânsito e quando se aproximava a estação de metro, comecei a calcular o tempo que tinha para ainda conseguir chegar a tempo.
Mas não controlamos
impulsos.
Quando saí do autocarro estavam dois músicos de rua a tocar uma das mais bonitas melodias que me lembro de ouvir. Por aqui há muitos músicos de rua a entreter e encantar... mas normalmente cantam ou tocam sucessos musicais. Estes tocavam apenas – sem voz a acompanhar – e uma música que nunca tinha ouvido. Guitarra e violino apenas...
E eu que adoro
violino!
Os meus ouvidos começaram a ouvir a música assim que saí do autocarro: para além de ser um som bonito, era um som novo naquele sítio. Tenho passado ali duas vezes por dia, cinco dias por semana, fez precisamente ontem dois meses (algo que também acabei de reparar, nem a propósito deste texto) e nunca tinha ouvido nenhum músico ali... até ontem, dia em que não tinha tempo, ontem que não tive oportunidade de ficar e ouvir. Mas mesmo assim, o meu corpo robotizado hesitou ao passar por eles, como pedindo à irracionalidade os dois minutos de inconsciência que me iam fazer chegar ainda mais atrasada. Não podia. Mas queria tanto!
Quis tanto ter
tempo!
Nunca me lembro de ter aquela sensação... Queria de tal forma ter ficado que fui o caminho até casa a pensar naqueles três segundos de hesitação e na quantidade de vezes que os nossos ouvidos não ouvem, que os nossos olhos não veem, que o nosso relógio não para, que o nosso modo robô está ativado e que até a respiração parece uma coisa tão supérflua. Na quantidade de vezes que temos a cabeça cheia de coisas para pensar, a agenda cheia de coisas para fazer... e no final, não conseguimos ver nada. Não conseguimos viver nada. Olhamos para o relógio para ver as horas, para contar o tempo que depois não aproveitamos porque é tudo tão natural que já não reparamos. Estamos stressados, cheios de coisas para fazer que o dia parece mais pequeno do que devia e depois a vida passa... passa rápido de mais porque estamos tão ocupados que nem aproveitamos as pequenas coisas.
" A vida passa enquanto fazemos planos "