Saudades de ti.
Nem sempre foi perfeito. Pelo contrário, mais depressa fomos um desastre do que perfeição. Mais depressa fomos tempestade que bonança. Mais depressa éramos inferno que céu. Mas gostava de nós, gostava das nossa bonança. E do arco-íris, da luz ao fundo do túnel. Para que conste: gostava mesmo.
Odiava a sensação de assunto inacabado, de coisas por falar, de as coisas correrem mal e não te poder contar, porque correram mal contigo. Odiava a sensação de ficar à tua espera e a sensação de sentir que te perdia, porque aprendi muito cedo contigo que não podia ser eu a ir buscar-te. Magoava-me igual todas as vezes e dói só de pensar. Odiava a sensação de achar que não voltavas e de às vezes preferir que não voltasses. Mas eu queria sim, que voltasses, queria muito. Porque o nosso céu era tão bom... o nosso fim do arco-íris era tão mais rico que um pote de ouro, os nossos dias de sol eram tão quentes!
E depois, realmente, começava a parar de chover, as nuvens iam-se dissipando, o arco-íris tímido aparecia e o dia seguinte acordava com um brilho radiante de sol quente. E amava ter-te de volta. E eu não percebia como é que aquilo acontecia. Eu nem entendia a chuva, às vezes! Ainda não entendo muitas vezes como as nuvens se juntam. Não queria que se juntassem, não percebo como acontecia e continuo sem conseguir perceber porque acontece, por muito que tente evitar.
Na verdade, os dias de sol são tão melhores e depois, de repente, lá fica cinzento sem perceber como, porquê... Ah? O quê? Como? Porquê? A sério? Onde? Porquê? De verdade? De onde? Porquê? Chuva, vento, trovoada. Ah? O quê? Como? Porquê? A sério? Onde? Porquê? De verdade? De onde? Por onde? Ah?
É difícil perceber como nos dávamos tão bem e depois tão mal. Mesmo sem mal entendidos, mesmo sem motivo. Depois acreditava que se calhar mais valia ficares perdido pelo nevoeiro provocado pela chuva. Mas não queria. Não queria mesmo. Queria que ficasses comigo e não saísses. Queria que ficasses e o resto acabasse. Queria viver sem tempestades, mas contigo. Ou viver as tempestades contigo.
E sabes? Eu continuo sem perceber essas tempestades com tão bons dias de sol a precederem. Uns chuviscos seriam normais, mas não tantas tempestades, grandes, seguidas, tão à séria! E não percebo a tua demora pós-tempestade. Nunca percebi.
E eu tenho saudades: tenho saudades de saber que estavas lá... tenho saudades de saber que bastava chegar a casa, mudar de divisão ou até olhar para a frente e tu estavas lá.
Tenho saudades de como era bom cheirar-te e abraçar-te. De como era tão bom poder tocar-te.
Mesmo quando não estavas, eu sabia que eventualmente viria o momento em que iríamos estar juntos e eu sempre com o mesmo arrepio na barriga, como se fosse a primeira vez. Aconteceu toda e cada vez! E mesmo quando estávamos no mesmo espaço, cada um no seu mundo, era bom saber que estavas ali... Era bom. Mesmo bom. Era bom saber que se quisesse abraçar, tu estavas ali a três passos e meio. Às vezes, sem saberes, ficava só a ver-te.
Depois veio uma tempestade em que eu deixei de esperar por ti, porque cada vez mais demoravas mais a voltar. Por muito que eu quisesse, por muito que fizesse, por muito que esperasse, por muito que dissesse...parece que deixou de ser suficiente (ou talvez nunca o tivesse sido). E então, deixei de esperar por ti. Por ti e pelos dias de sol.
Depois eles eventualmente apareceram. E tu não. E eu tinha medo de estar sem ti - tinha mesmo! Queria muito estar contigo. E eu tinha saudades - mesmo muitas - e queria que voltasses - mesmo à séria - mas se não querias aparecer, eu tinha de aprender a aproveitar o calor , mesmo sem ti, e mesmo não querendo estar sem ti.