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#EsteOutroMundo

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Confesso.

Deixaste-me ir. Talvez achasses que eu ficava e que esperava. Talvez achasses que sempre estaria ali na mesma, que te abriria a porta quando quisesses chegar.

E até chegarias sem aviso. E eu estendia a tal passadeira, que que te levava a uma porta escancarada. E, se eu já estava bem, com pontaria, chegarias quando eu estivesse a viver no meu melhor.  E eu confesso que quis muito fazê-lo. Confesso que durante demasiado tempo, mantive tudo a postos para um regresso mais que sonhado. Mas eu sempre ouvi que quem não está connosco lá em baixo, não nos merece cá em cima. E sempre me disseram que virias. E quando o diziam, eu acreditava. Acreditei - e desejei! Ai se o desejei! Quis muito! Quis tanto! 

E confesso que esperei.

Aliás, rezei que estivessem certos, e esperei. E rezei para que não demorasses, e esperei. E vi a minha vida seguir sem ti, e quase (quase mesmo), que desesperei. Mas depois fui deixando de esperar, deixei de saber se o desejava assim tanto, deixei de rezar por um regresso que cada vez mais se atrasava, deixei os sonhos esmorecerem, deixei de ouvir quando diziam que virias. Deixei de acreditar.
E se já estava bem antes de ti, comecei a acreditar que a tua partida foi mais um pequeno embalo na subida. Assumi o erro a mim própria - não o ter-te encontrado, te ter deixado entrar e ter encaixado tão bem em ti. Mas o  de te ter esperado tanto. Pedi-me desculpa por ter acreditado que virias - tu já tinhas ido, e eu errei comigo própria em não deixar tudo o que era teu ir também! Mudei a frase feita para " o que não nos subtrai, acrescenta".

Caramba! Como eu demorei a assumir a tua ausência! Como demorei a aceitar-te como algo bom mesmo depois de ires, como eu demorei a respirar de novo! Mas sabes o que percebi? A minha respiração não tinha ido contigo – eu recuperei o folego que já não tinha desde que te abracei a primeira vez!
A sério ! Sabes aquela sensação de que o tempo para quando beijas alguém por quem te apaixonaste? Ou… ou aquela sensação de choque elétrico no primeiro toque a sério, que parece que te tira o chão e te deixa em suspenso? Eu acho que foi aí a última vez que respirei devidamente. Aí, nesse preciso momento. Naquele primeiro momento em que me a tiraste por algo bom. Ires foi , vejo agora, algo bom! E tudo nos entretantos, entre esses dois momentos terá sido uma montanha-russa de emoções e momentos.

E eu até gosto de montanhas-russas, mas é constante ficar de respiração suspensa. E talvez essa frequência não tenha sido saudável. Talvez a tua, minha, nossa volatidade não tenha(m) também sido a coisa mais saudável de sempre. E depois deixei-te ir.

Calma! Eu sei que não precisaste da minha autorização para ir. Pelo contrário, foste de repente, sem olhar para trás, sem permissão, justificação, hesitação ou qualquer tipo de explicação para comigo. Aí, deixaste não só a minha respiração em suspenso, como toda eu fiquei a levitar nas últimas palavras ditas. Toda eu fiquei em suspenso no que poderia ter sido e no que poderia ter feito, e dito e … talvez não fosses. Não logo, pelo menos. Não tão pronto, esperava eu… Porque tu irias na mesma, vejo agora – por outros motivos, por outras vidas ou eventualidades. Aliás, não irias – continuarias! Percebi que fui de passagem. Talvez uma pequena lomba na tua caminhada, uma pequena estação de serviço, um ligeiro apeadeiro.
Mas eu só soube da tua viagem quando já não tinha como te agarrar nem a ponta da camisola (e também nunca fui muito boa a correr, não é verdade?). Quando (re)começaste a ir, eu não me apercebi - estava muito distraída com o tão bom que achava que tínhamos! Depois quando já não estavas, eu preferi acreditar num regresso que eventualmente fosse acontecer… E demorou a cair a ficha da inexistência desse momento: a minha vida pode ser uma comédia romântica, mas, ao contrário do que cheguei a pensar, ela começou com a tua saída dela.

Sabes aquele evento que desencadeia o resto do filme? Não foi a tua entrada na minha vida. Tampouco foi toda a nossa história. O evento que despoletou tudo o que podia estar em exibição num cinema perto do mundo, foi a tua saída exímia, a tua audácia de descartares tudo o que era incrível, a tua inocência em descorar o melhor que poderíamos ter tido.

Talvez nunca te tenha passado pela cabeça voltar, afinal de contas. Talvez nem te tenha passado pela cabeça, se quer, olhar para trás! E eu que tanto sonhei com esse momento, agradeço agora ter perdido a esperança que ele viesse a acontecer.

E eu ainda te vejo. Porque o universo quer-nos perto, eu acho. Mas perto e juntos é diferente. Mas perto e unidos não é, definitivamente, o mesmo. Mas já não faz mal. Vejo, sorrio e sigo. E não me importo de ter sido apenas um pequeno contratempo para ti. E espero não te ter atrasado, muito sinceramente.

Do fundo do meu coração - e daqui de cima - espero que estejas mesmo bem.

Deixaste-nos ir. E talvez a tua ideia nunca tenha sido voltar. Talvez a tua ideia tenha sido ir desde o primeiro momento. E tudo bem, eu também já fui e voltei a respirar.

No nosso tempo.

Quero abraçar-te para sempre.
 
No nosso finalmente,
No nosso pronto,
No nosso agora,
No nosso por aí fora,
No nosso “não vejo a hora”,
No nosso “de hoje em ora”
Porque o nosso tempo demora.
 
Mas depois chega, e corre.
Chega e não para.
Chega e escorre,
Chega e não espera.
 
E eu quero parar esse tempo
quando ele chega,
porque parece com tanta pressa,
e vem e vai tão depressa.
Esse tempo que não espera
quando nos perdemos dele,
quando nos perdemos dum mundo.
Que tanto nos desespera.
 
E esse tempo acelera
(mesmo a fundo)
Quando somos um e o outro,
 
Quando somos um do outro,
Quando finalmente estamos sós,
Quando, por fim, nos temos,
A nós e aos nossos momentos,
E à nossa voz.
E nos encontramos nos nossos beijos,
nas nossas mãos, nos nossos nós.
 
E eu vejo um tempo que reage,
A esse abraço que me derrete,
A esse colo que me protege,
A esse todo que, sem saber, me dás.
 
E depois há esse sonho de sorriso que me aquece,
Esse “tu” que me prende, me apetece,
Esse olhar que quanto mais olho,
Mais sinto, mais vivo, mais tenho…
Mais devaneio ou miragem me parece.
 
E o tempo não nos respeita,
Nem a mim, nem a ti, nem a nada:
Nem a essas coisas que são tuas,
Nem a essas coisas agora tão minhas,
Nem a esses momentos tão nossos,
Tão escassos,
Tão demorados,
Tão apressados,
Tão tanto,
Tão tudo. 
 
Quero abraçar-te até ao fim do mundo.

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