Vais voltar? Se disseres que sim, eu espero. Se disseres que vens, eu fico. Se disseres que queres, eu quero. E prometo que te deixo a porta aberta.
Deixo-te a porta escancarada, Para que chegues sem entraves, Para que chegues sem demoras, Para que venhas sem desculpas, Sem perguntas, Só respostas.
Até estendo passadeira vermelha, (Ou azul, se preferires), Para que saibas a direção, Para que tenhas a certeza de que te quero aqui, Para que regresses sem hesitação, Sem qualquer dúvida da minha vontade. e que nunca te diria que não.
Como diria?
Só não me peças que seja eu, por favor. Não peças que seja eu a ir, Não ponhas esse passo em mim, Que não fui eu quem fugiu, Não fui eu quem desistiu Não fui eu que pedi o fim. Por minha vontade ficávamos e seríamos, Mas tu foste, mesmo assim.
Mas ainda acredito, sabes? E ainda quero que voltes.
Voltas?
Se voltares, eu recebo-te. Recebo-te de alma e coração, Recebo-te de braços abertos, De regaço disponível, De olhos brilhantes, E o todo mais que for possível.
E até posso ir contigo depois: A sério que vou! (como sempre fui) Mas só depois de vires tu.
Vens?
Tens a porta aberta, Entrada mais que disponível, Para que saibas que podes mesmo voltar, Para que possas vir e não querer ir mais, Para que possas vir, rir, entrar e ficar.
Não garanto esperar para sempre, O tempo urge, A vida voa, O futuro ecoa, As coisas mudam de repente, E eu não sou assim tão paciente.
Mas, para já, ainda quero. (Quero muito.) E garanto que ainda te espero, E até prometo que me esmero, para não voltarmos a ir.
Esquece isso dos amores calorosos de verão. Esquece esses amores passageiros que vêm e vão e te encharcam de emoções fortes e sentimentos desmedidos, como qualquer onda do mar que testemunhou essa história. Esquece isso das pessoas que se vão com o calor e que têm medo de ficar quando o sol não é tão quente . Esquece esses amores - e nomes - que te dão sede, de tão salgados que são.
Já viveste um amor de inverno?
Um amor que não se assume, nem derrete. Um amor que se mantém frio e calculista durante toda a história dos vossos corações. Um amor que vem devagar e sem se anunciar.
Vem sem aviso, sem premeditação. Pé ante pé. Doce. Ele vem silencioso quando tu pensas que não vai acontecer nada...
É um amor que te chega inesperadamente, e talvez nem o reconheças, assim, tão disfarçado, quieto, e repentino, intenso demais sem nunca o ser em demasia. Na medida certa, na intensidade ideal, vem discreto, quase em segredo até para vocês os dois, que se derretem sem se aperceberem. E os dias que supostamente ficariam mais frios, curtos e, frequentemente, cinzentos, vão aquecendo, vão ficando cheios e imensos, de uma intensidade e vida que só visto (ou vivido, mesmo), vão ganhando uma panóplia de cores que nem sabias que existam. E vocês vivem-nos, sem perceberem, porque, afinal de contas, as folhas continuam a cair e a natureza perde o brilho na mesma, apesar de, na vossa bolha, haver calor, sol e luz no outono... ser pleno verão num absoluto inverno!
Os pores do sol ficam incríveis, ficam mágicos onde quer que os vejas - e parecem tão melhores que os de verão! Embebedas-te de emoção. Absorves energia. Passas a absorver tudo - mesmo sem saber. Porque, a verdade é que, e se os amores de inverno forem tão efémeros quanto os de verão? Apesar de, sem saberes, desejares que aquele momento (tudo aquilo) não acabe, vives tudo intensamente como sendo a última vez. Aliás, respiras e mergulhas em todo este enredo como se fosse a primeira e a última vez em simultâneo, como se tudo aquilo fosse novidade, algo único que pode acabar antes de começar. E tu não queres que acabe... Mas nem sabes disso. Ninguém sabe, ninguém percebe, ninguém vê nada ... nem mesmo vocês que só vão inteirar-se de tudo quando, efetivamente, for o fim. Ou o princípio do fim.
Ou, talvez descubram, com sorte, mais tarde - mas nunca demasiado tarde - que esse que soube a último era apenas o primeiro de muitos - vossos.
Ou, se calhar, toda a gente sabe, toda a gente vê e percebe, menos vocês - porque preferem admitir efemeridade. Preferem os amores de verão que toda a gente conhece, e querem viver um amor de verão ainda que fora de época. Quando, na verdade, têm tudo para viver um amor de Inverno - um amor de ano inteiro... e, talvez sem querer exagerar, um amor de vida inteira.
Crias verão em ti. Criam verão em vós. Criam um verão d'Inverno - dentro e fora de ti, dentro e fora de vós - com palavras que aquecem, com momentos de conforto, com detalhes improvisados que, provavelmente, não vais deixar ir tão facilmente. São coisas que se impregnam em nós, mesmo quando nos recusamos e, normalmente, nem percebemos. São sensações que nem sabias que existiam. São os abraços mais apertados sem que ninguém se toque. Afinal de contas, são estes os Verões que ninguém quer que acabem (e que tantos deixam ir)! São estes os Verões que todos querem e ninguém assume... Nem mesmo tu, que o vives tão imersamente como se estivesses a sobreviver, até então, para um inverno assim.
A verdade, é que cada pedaço de vocês se torna num ponto alto, numa forma intangível, numa descarga de endorfina. Boa disposição, humor - porque, afinal de contas, o verão é uma extravagância de energia positiva e boas sensações. E vocês são verão, juntos - são o arquetipo do Verão na sua plenitude, na sua imensidão.
E vocês estão nesse verão vosso, não é verdade? Nesse verão que começou, quando todos os outros apontavam o fim dessa estação. Nesse verão que durou todas as outras estações. Nesse verão que ninguém queria que acabasse além de vocês, que não sabem o que fazem.
Já viveste um amor de inverno?
Um amor que não se assume, nem derrete. Intenso, impremeditado, silencioso, improvisado, frio e calculista, que vem devagar e sem se anunciar. Doce. Espalha-se na tua vida, ainda que não percebas. E depois, despede-se do nada, acaba sem acabar, vai sem ninguém querer que vá.
Subi as escadinhas que davam até à tua porta e toquei à campainha como se fosse a primeira vez.
Era inevitável não me arrepiar ao chegar ali e em pensar em todas as hipóteses e histórias que se viveram e não poderiam esperar do outro lado da porta... estarias como eu? Eu tremia por dentro, vibrava de vontade de te abraçar, tinha o coração a mil com toda a conversa que nos levou até este ponto, tinha um aperto no peito com a possibilidade de estares a precisar tanto de mim como eu de ti, naquele instante.
Abriste a porta e olhámo-nos de alto a baixo como se fosse a primeira vez que nos víamos – talvez fosse a primeira vez que alguém realmente nos via em muito tempo. Segui-te como se estivesse nos corredores de um museu, um caminho que parecia um labirinto, entre umas paredes que se sentiam demasiado estreitas para a tensão e ansiedade que estava a gritar dentro de mim. Deixei-te levares-me onde me querias, deixei-te guiares-me pelo espaço, como achavas melhor. A minha ignorância do que fazer contigo (connosco) era demasiada! E não estava a conseguir ignorar, de todo, a vontade de te agarrar, de te acalmar, de te encostar ao meu peito: sem prudência, sem jeito, sem trejeitos, sem medos, ou desconceitos, ou segundas intenções.
Cada passo que davas, puxava-me mais para ti e tu, aí do teu canto, se calhar nem percebias. Estarias como eu?
Era inevitável não gostar de toda aquela situação. De toda aquela história que estavamos a criar quase de repente, quase sem querer, como se fosse a primeira vez.
E, de repente, tu paraste e viraste-te para mim. Olhaste-me de alto a baixo e viste-me como se nunca ninguém me tivesse visto, como se eu fosse a única pessoa à face da terra, parecias estar a estudar cada um dos meus traços, dos meus cantos, parecias decorar cada um dos meus sinais. Arrepio na espinha. Senti-me como se me estivesses a criar à medida que os teus olhos percorriam cada milímetro meu e eu ia aparecendo diante de ti, despida de noções e teorias. Senti o meu corpo aparecer como nunca, e senti a minha alma derreter aos teus pés. Senti-me como se finalmente alguém me visse – alguém me quisesse ver. Arrepio na nuca. Estarias como eu?
Estendeste-me a mão, e a minha não se inibiu nem um pouco em aproveitar o embalo. Puxaste-me para ti, assim que os teus dedos sentiram os meus. Os nossos corpos esbarraram como se fosse a primeira vez e senti mais um arrepio em mim, que desta vez levou exatamente o mesmo percurso que os teus olhos tinham feito momentos antes. Agora sim, era inevitável não gostar de toda aquela situação... Sensação. Os meus sentidos cruzaram-se dentro de mim: euforia, harmonia, sinfonia, poesia. Vi o filme da minha vida diante dos meus olhos, naquele instante. Vi todo um futuro desenhado pela minha imaginação e adivinhei cada toque, cada carinho, cada palavra silenciosa que se seguiu. Estarias como eu?
Despedimo-nos da vida, da rotina e do dia. Despimo-nos de nós . Focámos no ninho que tinhamos encontrado um no outro - e não importava o tempo lá fora. Ouvia-se chuva, ouvia-se vento e trovoada: sentiamos sol, sentia-te Sol. Fogo. Escutámos silêncio, escutámo-nos no silêncio. Dançámos corredor fora: descoordenados, como quem não sabe dançar (e não faz ideia do que vai acontecer) mas tão sincronizados! Embebedámo-nos um no outro (um do outro). Mergulhei nesses olhos que pareciam ver-me por dentro, que pareciam querer ler-me por completo. Tropecei, quase sem querer em ti e aterrei, sem proteção, em tudo o que éramos naquele momento. Fechei os olhos e segui guiada pelo magia do inesperado.
Não sabia o que viria dali. Tu saberias? Terias estudado tudo, como me estudaste a aura?
Eu não fazia ideia... mas aquela dança desmedida de olhares, aquela sintonia de arrepios, aquela explosão de sentidos, auguravam tudo de bom.
Eu sabia que ia mergulhar novamente nesses teus dois pontos chocolate, que iria saborear de novo esse sorriso caramelo que tanta fome me dava, que ainda iria ver o meu corpo no teu a dar um nó - um nó cego, daqueles que custa a desapertar e que nunca ninguém iria ser capaz de explicar.
Eu sabia que todo este esforço iria trazer um bom prémio no final, todo este alvoroço traria o melhor resultado possível, toda esta tempestade traria a maior paz quando passasse. Seria impossível resistirmos, depois de tanto, ao abraço um do outro, aos sussurros e conchinhas, aos cheiros e toques, aos beijos e cuidados. Seria impossível não querermos repetir toda a ligação inegável, toda a paixão que nunca fora pronunciada, toda o fogo que nunca fora controlado, todo o orgulho que sentíamos um pelo outro. Nunca fora segredo, toda a cumplicidade.
Mas agora... agora tudo além estava pronto a ser desvendado, por fim. Nada nos pararia! O mundo começara a girar como nós desenhámos: a passadeira vermelha estava, finalmente, estendida para todos aqueles sentimentos oprimidos e a avenida aprumada para os medos sambarem para fora dali.
Bem vindos, de alma e coração, ao cliché do resto da vossa vida!
Os cientistas deveriam, com certeza, estudar como era possível toda esta química nunca ter dado em explosão. Nunca entrara: sempre a podemos controlar, sempre a soubemos resguardar. Sabíamos como a tratar com o jeitinho certo para ser tão nossa, e só nossa, mesmo que exibicionista.
Dentro do caos da vida e da rotina, dentro do caos da agitação e da ansiedade, dentro do caos de uma anarquia, virámos ponto de encontro. A sorte trouxe-te para mais perto, o destino fez-nos um do outro no momento certo - e eu sabia tão bem o nosso lugar, dentro de todo o caos! O mapa deste tesouro estava muito resolvido: eras centro, eras serenidade, eras ponderação e proximidade.
Nunca fomos urgência, nunca fomos imediato ou promessa. Nunca fomos simulação ou concretude. Éramos segurança e descanso, desejo e amparo. Encontrávamos um no outro um ar mais respirável e uma força que tornava tudo fácil. Encontrámo-nos um no outro, com a tranquilidade de quem sabe que a pressa não traz perfeição: e nós éramos perfeição ideal, dentro de todos esses caos. Nós ficámos um do outro sem deixar de ser de nós, nós ficámos todo um mundo com todo o tempo para se fazer descobrir.
Sabíamos que a vida é curta de mais para ficar a pensar , para perder tempo e, talvez por isso, nos tenhamos encontrado finalmente, depois de tanto nos vermos. Vimo-nos diferente, depois de pousarmos um no outro, depois de nos encontrarmos. Aterramos um no outro, novamente e no nosso nada caos, com todo o caos em volta: eu sabia que voltarias - e eu não precisava de ti, não precisava desse teu jeito ou de toda a paz que me trazias, nem te ia pedir para ficares para sempre, mas esperava que o quisesses tanto quanto eu. Dava tempo para isso - ainda dava tempo para ficarmos um no outro para sempre.
Dentro de todo este caos de estar sem ti, eu sabia que virias. Dentro de todo este caos, que era ter-te sem nos ter, eu sabia que te teria. Dentro de todo este caos de não saber como nos querer, eu sabia que nos queria. Eu sabia que voltarias.
Just a little bit longer, please. A moment more, I swear it will be fast.
I just need a bit more: a last word, a last kiss, a last touch, a last hug. Just a few seconds, please. Give me just one more glimpse, a smile, a walk, some cuddles. Give me just one more call, one more message. Give me one more dinner, a slice from a pizza we ordered in a rush, one more cookie... just a bite. Give me one more date: should we drink coffee? One cup more only. A sip, maybe? A little tiny sip...
Pause us. Keep us. Hold on to us. Give me just an instant more. A no-way-back walk by me, to you. Then I will return to me, but I will have you with me. I promise to arrive and don't leave. I promise to stay. I promise you my existence. I promise to you the "yets", the "everythings" and "alls", the "forevers". I promise you sweet, intense, permanent words. I promise you long kisses upon arrival, and bigger ones during the soon-ending "goodbyes". I promise to you the night-long touches. I promise no reason hugs just because, and heartening hugs as needed. I promise I will always see you. I promise to remember your glances, your smiles, and the Sunday afternoon cuddles.
Give me what you never gave me before. Let me give you as much as I have to offer you. Give me just a little bit more, and I will give you everything I can, so you will want to share everything you have for me.
Then I will give you all the time in the world. Actually, I will give you my own world. I just need a little longer... Do you mind giving me some more minutes, please? Some hours, maybe... there's so much to do - a gigantic world to live in, a whole kiss for us to be in.
Linger here: stay longer... on my behalf, for those lips - and everything else - I will stay with no hesitation! There's so much that I still want to show you, so much to unveil! Stay just some time more, it is still early! Don't go yet, I barely saw you - I barely felt us and want us so badly. Just stay here, ok? At least for a moment more: give me a little bit more of you. Give me a little bit more of us - some days more, maybe. Maybe I am being too bold, as time is something so valuable... But would be a lot to ask you for some months more? It is not that much, I believe... and forgive me my madness, but every time I think of you, I want you a little bit more. I want us a little bit more - a sip from what was not that perfect, but was good enough to love.
Give me a little bit more of us: I was wondering, perhaps, for some years more... and then you just lie here for the rest of our life, pretending we mind that. I really just want a sip more: a sip from the "yesses" and from the "likes". A sip from your oh-so-good intuition - because we both know mine doesn't work that way. A sip from a dream not this short, a sip from a moment that lasts, a sip from a "once upon a time" that can be turn into a "forever" straight away.
Give me a little bit more of us, a little bit more of this, because it was gone in a blink of an eye. Give me just a sip more of us... you in a sip, please.
Viraste almofada, cobertor e aconchego. Viraste lua e nascer do sol. Viraste canção de embalar, silêncio calmante. Viraste "boas noites", "bons sonhos", "bons dias"... viraste um fechar de olhos e um abrir de sorrisos, viraste um abrir de olhos e um fechar de lábios. Beijo bom. Beijo ótimo. Foste dia e noite, e viraste manhã.
Harmonia e conforto.
Deixaste o mar sem ondas, um tempo que aquece, um amanhecer de sol. Deixaste um sabor suave, aroma de reconciliação, uma essência de frescura de uma alma acabada de tomar banho. Viraste ouro sobre azul, cereja no topo do bolo. Viraste prólogo de uma história que eu quero viver, viraste inspiração na ponta dos dedos. Viraste bom presságio, boas sensações, boa disposição matinal, barrinha energética (beijinho energético). Viraste tema principal do meu sorriso e do meu bom humor. Viraste previsão de sol, mesmo em dias nublados. Viraste por do sol em dia de chuva.
Viraste serenidade depois da agitação, raio de sol pós-tempestade, arco-íris. E eu fiquei rica com o pote no teu fim - no nosso início, no nosso recomeço constante. Fiquei rica em manhãs lindas e bons acordares. Fiquei rica em abraços apertados que quero tanto esbanjar em ti . Fiquei rica com os abraços apertados que tanto esbanjas em mim. Gosto disso: gosto de ser rica de ti. Gosto destas manhãs ricas em ti.
Viraste o meu acordar favorito, a minha premonição de um ânimo inevitável, ante-estreia de algo promissor, teaser de um bom dia, rotina que não cansa. Viraste o despertar ideal, viraste cheirinho doce que faz levantar, dose diária de vitaminas que não esqueço de tomar. Manhã de calmaria, manhã de paz, manhã sem pressa, manhã fácil.
Calma e tranquilidade.
Um virar de página tão bem sucedido, um sonho tão bom de viver, um capítulo tão bom de ler de um livro tão bom de ter, de uma saga que quero tanto - tanto! - ver. Viraste solo firme, corrimão seguro, farol e porto - bom porto. Porto de abrigo, de atraque, de permanência. Bom Porto.
Viraste momento de uma serenidade que se demora. Viraste sossego de domingo. É isso: viraste domingo - pequeno almoço de domingo - eu quero domingar muito.
Só mais um pouco, por favor. Mais um bocadinho, que eu prometo que é rápido!
Só preciso de um pouco mais. Uma última palavra, um beijo, um toque, um abraço. Só mais uns segundos, por favor.
Dá-me só mais um olhar, um sorriso, um passeio, um cafuné. Dá-me só mais uma chamada, uma mensagem.
Dá-me mais um jantar, uma fatia de pizza encomendada à pressa, uma bolacha... uma dentada, apenas. Dá-me só mais um encontro: bebemos um café? Só mais um copo. Um gole, talvez? Um pequeno tragozinho...
Pausa-nos. Guarda-nos. Preserva-nos.
Dá-me só mais um momento. Só mais uma caminhada por mim, num caminho sem volta até ti. Depois volto eu a mim, mas fico-me contigo. Prometo chegar e não partir. Prometo ficar. Prometo-te a minha existência. Prometo os “aindas”, os “tudos”, os “sempre”. Prometo-te as palavras de significado doce, intenso e permanente. Prometo um beijo longo à chegada, um ainda maior nas despedidas provisórias. Prometo-te um toque demorado que pernoite. Prometo-te abraços apertados sem motivo, e os confortantes sempre que precisares. Prometo ver-te. Prometo guardar-te os olhares, os sorrisos e o cafuné de domingo à tarde.
Dá-me o que ainda não me deste. Deixa-me dar-te o tanto que tenho para oferecer. Dá-me só mais um pouquinho, que eu dou-te tudo o que poder, para quereres partilhar tudo o que tens para mim. E eu depois dou-te o tempo todo do mundo. Dou-te todo o meu mundo, na verdade. Só preciso de mais um bocadinho... dás-me mais uns minutos , por favor? Umas horas talvez... ainda há tanto para fazer – um mundo gigante para vivermos, um beijo inteirinho para demorarmos.
Demora-te aqui: fica com delongas... que daqui, da minha parte, por esses lábios - e todo o resto - não hesito em ficar, e ainda há tanto que te quero mostrar e tanto para te desvendar! Fica mais um bocado, que ainda é cedo. Não vás já, que mal te vi - mal nos senti e bem nos quis. Fica-te por aqui, sim? Pelo menos mais um pouco: dá-me mais um pouco de ti.
Dá-me mais um pouco de nós – uns dias, talvez. Talvez seja ousadia da minha parte, sendo o tempo algo tão precioso... Mas seria muito pedir-te mais uns meses? É só mais um pouquinho e perdoa-me a loucura, mas cada vez que penso em ti, quero-te um pouco mais. Quero-nos um pouco mais – um trago do que não era perfeito, mas tão bom.
Dá-me mais um pouco de nós: peço, talvez, só mais uns anos e depois ficas o resto da vida, como quem não quer a coisa. Só quero mesmo um trago a mais: um trago dos “sins”, dos “gosto”. Um trago dessa intuição, porque a minha ambos sabemos que não funciona. Um trago de um sonho que não seja tão breve, um trago de um “era uma vez” que pode imediatamente ser um “para sempre”.
Dá-me só mais um pouco mais de nós, um pouco mais disto, que soube a tão pouco. Dá-me só mais um trago de nós... só mais um trago de ti, por favor.
Fomos um momento apenas: um apontamento no calendário, um meio sorriso, um movimento arriscado, um canto perdido num mundo imaginado, um caminho escondido a corta-mato, um gesto mal-amanhado, uma meia palavra, meia lua, céu nublado com abertas, uma gota perdida numa rua.
Fomos um livro gigante em miniatura, mas apenas uma linha fina numa folha A4, um soluço do tempo, um boato com cinco minutos de fama, um dicionário sem definições, perguntas sem resposta, um pretexto sem contexto, sem paratexto. sem momento, sem encaixe, sem nexo.
Fomos uma tontice de uma cabeça com asas que toda a gente dispensa, um achaque de um peito inquieto, um impulso de um coração intenso.
Fomos uma boca prestes a falar, um abraço longe de apertar um olhar que nunca se trocou, um beijo que ficou por dar, um segredo por guardar.
Fomos um presente envenenado, uma vida não vivida, o rescaldo de uma epifania, uma fofoquice de uma epopeia, o prólogo de uma letra capital, uma antestreia sem estreia principal, uma antevisão de um jogo sem apito inicial, empatado por falta de comparência de ambas as partes.
Fomos nem duas palavras, um segundo de história, um poema de um verso, que não rima, não termina, e é impossível de declamar.
Fomos um ponto final, uma música que nunca se fez, uma ideia que se desfez, uma lenda pouco encantada, um conto sem final feliz, fomos um sopro, um ápice, fomos pouco mais de uma vez, fomos um momento apenas, um momento de pouca lucidez e éramos para ser tudo de uma vez.
Sendo ela o teu horizonte e a primeira coisa que a tua vista alcança quando olhas da tua janela. É nela que os teus olhos pousam quando te distrais (ou será ela que te distrai quando os teus olhos se cruzam com ela?), deixaste-te enterrar nela, deixa-la envolver-se em ti. Deixa-la cruzar no teu caminho, acompanhar-te numa caminhada tantas mais vezes que eu!
E as vezes que deitas a tua cabeça nela em vez de a deitares em mim?
Quantas vezes a areia dessa praia já te abraçou e colou a ti... quantas vezes já sentiu o calor do teu corpo? Quantas vezes essas ondas já encontraram o teu peito... já se encontraram no teu abraço? Quantas vezes essa espuma beijou a tua pele?
E logo eu que gosto tanto de praia, fui assolada por este ciúme da tua praia. Só imagino as vezes que já te perdeste por aí, as vezes que já te despiste para ela... Torna-se difícil não invejar a sorte dessa paisagem, que já te teve como parte integrante e eu nem hipótese de admirar esse momento tive. Torna-se difícil resistir a um ciúme louco de imaginar que te toca mais vezes que eu. Torna-se impossível não desejar loucamente ser essa praia, ou ter, pelo menos, um pouco da sua sorte.
A sorte de ver esse teu sorriso, de se poder perder nos teus olhos e de os fazer brilhar. Lotaria de milhões, o poder ter-te a deitares-te sobre ela.
É... definitavamente, invejo a tua praia. As visitas que lhe fazes, a sensação que te faz sentir, a vontade que tens de a ver, e o poder tocar-te tanto mais que eu. Definitivamente, emulo-a . No entanto, como posso criticar se faria o mesmo à mesma oportunidade? Se te deixaria perderes-te em mim ao primeiro resquício da tua vontade de o fazeres?
Tenho a certeza que esta inveja me faria ladra: roubaria a sorte dessa tua praia sem pestanejar. Não tenho dúvidas de que esta inveja me transformaria em bruxa: aprenderia todos os truques necessários para quebrar essa maldição que ela te lançou - ou todos os feitiços para que essa sorte fosse minha. Não hesitaria, convictamente, em trocar de lugar com ela e te beijar de cima abaixo, abraçar-te e enroscar-me em ti - seria , prontamente, um desses grãos de areia que levas para casa.
No entanto, trocaria a sorte desse sítio, por ser eu a tua sorte. Ser a tua sorte para nos perdermos juntos nesse por de mar, nessas nuvens de espuma, nessas ondas de sol... nessa tua praia invejável.
Eu sabia que provavelmente seria tudo desse teu sorriso (malandro) para fora. Tinha toda a certeza do mundo de que não podia confiar, quando tudo em ti parecia ser a ilusão personificada.
Mas tu quiseste agendar um crime. Deixaste propositadamente escapar, sem culpa, onde e quando. Fizeste-me querer marcar presença num momento ilícito. E nós não o verbalizámos de forma evidente...isso seria demasiado óbvio - e haveria provas. Mas ficou marcado com local, data e hora - com culpa, clandestinidade e vontade.
Era um encontro secreto, amanhã, com vista-mar.
E eu fui , sem saber o que queria , mas a saber - tão bem - o que esperar. E cheguei atrasada para a hora marcada comigo mesma, bem a tempo de ti, com a postura de quem não quer só chegar, mas ficar também. Cheguei cheia de noção do que poderia acontecer, fazendo força para que não acontecesse e fingindo não saber de nada. Cheguei cheia de mim, comigo mesma. Cheguei onde tinhas dito que estarias.
Tu sabias que eu viria, e eu sabia onde te encontrar. Era tão mais fácil se não soubesse onde te encontrar.
Era um encontro clandestino, hoje, com vista-mar.
E... não sei se foi da paisagem (tu não tinhas como saber, mas o horizonte azulado sempre me deixou vulnerável), se foi do cheiro (tu não tinhas como saber, mas a maresia deixa-me demasiado livre), ou da sensação térmica (tu não tinhas como saber, mas o ar quente salgado tolda-me a consciência), mas perdi-me ao me cruzar contigo de novo quando, previsivelmente, descaradamente e finalmente, decidiste dar o ar da tua graça - ou da minha desfortuna.
Era tão mais fácil se não tivesses vindo.
Parte de mim queria muito que não viesses - nunca haveria delito, não haveria vítimas, nem se consumariam beijos que deveriam ser impróprios para consumo, nem haveria balas perdidas, demais transgressões ou eventuais e inevitáveis regressos ao local do crime. Mas a outra... ai a outra parte! A parte que ficou desolada com o não te encontrar logo e com o teu (ligeiríssimo) atraso ao nosso encontro não combinado, a parte que ficou impaciente com a tua ausência, a outra parte que queria, desesperadamente, que não tivesses tardado, que viesses sem passado, que viesses desarmado.
Era tão mais fácil se viesses desarmado.
Mas tu não só vieste armado, como trouxeste toda uma artilharia pesada que eu já conhecia - e que mexeu comigo desde a primeira vez. E eu apresentei-me negligente - sem desculpas, sem culpa, sem armas - perante todo o teu arsenal. Eu numa inocência bélica, tu numa aura clandestina.
E fugiu tudo.
Fugi de mim.
Rendi-me!
Perdi-me:
Perdi-me de mim.
Mas tu não me perdeste e eu encontrei-te e não me devia ter encontrado também. Mas encontrei-nos aos dois, numa conjugação que só deveria existir no singular. Encontrei-nos num crime que provavelvemente nunca prescreveria. Encontrei-nos em tudo o que não devia ser mexido, em tudo o que deveria ser evitado, em tudo o que eu bem sabia ser ilegal, em tudo o que não sabia e que sabia bem de mais, em tudo o que (me) saberia bem de mais, em tudo o que bem me soube. E bem me quis. E a pouco me soube. Soubemos, sabemos, saboreámos, somos, fizemos, fomos, foste, fui. Fugi de ti.