Dente de Leão.
Como um dente de leão num suave sopro de vento, deixei-me ir...
Como se soubesse por onde estava a ir, como se a direção fosse com toda a certeza a direção certa, como se uma força invisível não me deixasse virar 180º para regressar ao ponto de partida, como se fosse impossível voltar atrás, fui avançando sem me questionar: tal e qual uma folha a flutuar num rio com pressa.
Até porque... como resistir a esse sorriso malandro, como se olhasses alguma coisa deliciosa? Como resistir a esses olhos tão convidativos? A esse abraço que mesmo fechado é tão tentador? A esse corpo que só de olhar me aconchega o corpo como uma manta no inverno? E então, tal hipnose, deixei-me ir.
Como se só houvesse uma via possível, como se a única rota explicada pelo GPS fosse esta, como se todos os caminhos fossem dar ao mesmo, como se fosse impossível dizer que não, fui avançando sem se quer tentar evitar: tal onda do mar a acabar na areia da praia onde sempre chega.
Até porque... onde mais iria? Em que outro lugar me sentiria tão bem-vinda, como se fosse o meu lugar no mundo? Em que outro lugar me sentiria tão desligada? Tão confortável? Tão relaxada como se não houvesse mais nada do mundo que me pudesse obrigar a sair daí? E então, tal plano infalível, deixei-me ir.
Tal plano indiscreto, tal plano imutável, tal trilho delineado, fado decidido, tal magia silenciosa: deixei-me ser empurrada até ti, deixei-me levar, deixei-me ir e chegar junto a ti.
Cheguei junto a ti como se chegasse a casa ao fim de um dia longo de trabalho, em que a única paragem certa é tão óbvia que não há uma única célula no nosso corpo que queira outra coisa ou se queixe do que fazemos. Cheguei junto a ti como se entrasse num comboio, em que o destino é sólido, a última paragem está escolhida e o caminho de passagem é só um.
Agora paro junto a ti à espera que te deixes chegar a mim.