Discretamente.
És um ser discreto num mundo descarado. Um ser silencioso num mundo [demasiado] barulhento. És um ser misterioso num mundo de evidências.
Chegas escondido por entre as pradarias da vida, aproximas-te tacitamente e olhas-me como quem quer chegar mais perto e pede aprovação (por favor, não peças). Não esperas, mas não tens pressão também: tomas-me a medo e conquistas-me devagar, discretamente, como quem não quer a coisa. Tudo a seu tempo. E porquê ter pressa, se o mundo normalmente já acelera? És um ser calmo, num mundo apressado. E a pressa é inimiga da perfeição. E talvez estejas a escrever algo cuidadosamente e queiras chegar lá: ao auge, ao topo, ao melhor. À ordinária imaculidade que toda a gente espera conseguir alcançar e que, considerada neste teu momento e neste teu mundo, não parece tão ordinária. E talvez consigas chegar até lá, talvez consigas alcançar a perfeição. Talvez consigas mesmo alcançar o que procuras. E quem espera sempre alcança.
E alcanças-me. E eu deixo-te alcançar-me, lentamente. E eu alcanço-te sem ter a celeridade que nenhum de nós precisa...ou quer. És uma pequena bolha num áspero mundo gigante. Tornas-te um mundo gigante e delicado, na minha pequena bolha. És um ser suave num mundo grosseiro.
Discretamente, aconchegas-te no ponto final da frase que escreveste para mim. Esperas que a leia e a interprete [que te leia, e te interprete]. Esperas que a repita e a reescreva [esperas que te repita e te reescreva]. E a descreva. E te descreva. Queres tão indiscretamente que te leia e te repita, que chegas a tornar um pouco mais indiscreto. Mas eu gosto de ti indiscreto. E discreto. E no meio termo. E com um certo "quê" de tudo. E quero tudo ou nada, contigo. E quero um nada de tudo contigo. E de ti.
E tu és um ser completo, num mundo por preencher. És um ser incompleto, num mundo cheio . És um todo, num mundo de nada.
E entras de rompante: mas eu gosto quando chegas com tudo. E gosto quando me agarras petulantemente. E quando chego a ti sem perder tempo. E nós estamos praticamente imóveis na tua onda de descrição, mas há todo um mundo dentro de nós que acelera. E que aquece. E que se perde - que se perde em nós, dentro de nós, entre nós... E que te deixa mais agitado (que, claramente, nos deixa bem mais agitados), no mundo que, naquele momento, transpira tranquilidade. E eu chego a ti.
E ajeito-me no olhar que me fizeste. E espero que me observes e me vejas. Que me refaças e componhas. E que leias. Que me leias, me interpretes, me escrevas, me descrevas, me repitas. E sei que fico mais indiscreta contigo. Mais mexida e agitada. E sou um poço de emoção, sou um poço de ansiedade. Eu sou um ser ansioso, no teu mundo de calma. Sou um ser ansioso, no teu mundo de paz.
E eu sou uma mulher ansiosa, no teu olhar tranquilo. No teu corpo tranquilo.
Eu tenho um coração desassossegado, no teu peito calmo.
Porque eu sou um ser emotivo, num mundo desapegado. E tu refazes-me cada vez que me tocas, porque tu és uma espécie de restaurador, no meu mundo em ruínas.