Do meu primeiro suspiro
Acordei naquela manhã nublada.
Como quem não deseja que o mundo pare, mas quer por alguns momentos em pausa, segui-te.
Meia desengonçada, meia discreta, um tanto ou quanto direta, um pouco insegura, segui-te enamorada. Segui-te como quem não quer perder alguém, mas não conhece outro meio de prender. Segui-te como se o mundo não respirasse amanhã, como se ainda naquele dia ele deixasse de existir.
E tu seguias o mundo, seguias os caminhos do mundo, desvendavas vielas do mundo, desbravavas trilhos do mundo. Tu seguias no mundo.
Inesperadamente, abrandaste o passo. Paraste. Ergueste a cabeça. Olhaste o céu. Inspiraste. Aliás, inspiraste como se do último suspiro se tratasse. E talvez fosse o teu último suspiro... pelo menos como te conhecias. Como eu te conhecia. Como o mundo te conhecera.
Eu fiquei ali. Parei. Olhei-te. Suspirei também (tão bem). Suspirei como se fosse o meu último suspiro. Último, claro, antes do primeiro. Do meu primeiro suspiro. Contigo.
E depois desse suspiro viriam mais e mais. Viriam respirações próximas, respirações afastadas, inspirações, expirações, respirações apaixonadas. Algumas magoadas, algumas nervosas, ofegantes, satisfeitas, maravilhadas, animadas, entusiasmadas, (des)controladas. Perdidas... sem ti. E tantas vezes encontradas em ti.
Ficaste ali. E, claro, eu seguia-te e ali fiquei também. Tu miraste o céu. Eu (ad)mirei-te a ti. Ao teu à vontade, ao teu corpo, à tua silhueta, à tua forma de estar. Decorei todos os teus contornos visíveis com a pouca luz de uma sombra de dia de verão nublado. Imaginei os outros. (Suspirei) E apaixonei-me mais algumas vezes por ti.
Decidiste ficar por ali. Por aqui. Viste-me e sorriste. Andaste na minha direção, caminhaste para mim. Seguiste-me.