Epifania
De repente, o inverno aqueceu. Os dias passam a correr, o céu está azul e a paisagem brilhante. Parece que existe música de fundo em cada passada, parece que só se ouve rir e até as luzes de Natal parecem refletir com um brilho diferente, nos olhos de quem as observa. De repente, o peito enche-se de ar, mas parece mais leve, o coração acelera, o estômago agita-se, os joelhos tremem e as bochechas arrosam-se.
Um sorriso rasga-se timidamente, mas sem vontade de se fechar. Os olhos arregalam com cada som que soa dos lábios que olham, as mãos suadas tentam tocar tudo, como se fossem uma espécie de miragem. Não é. E o corpo fica a trabalhar num ritmo completamente diferente. Vive a alma por ele. Aliás, dança a alma por ele. Dança com uma alegria mágica, dança como se o mundo fosse acabar.
E se calhar acabou. Se calhar, de algum mundo acabou quando ela sentiu que tudo aquilo era, efetivamente, real. Se calhar, o mundo dela acabou ou, pelo menos, o mundo tal como ela o conhecia. Ou todo um mundo que ela sempre dispensou conhecer. Mas, de certeza, um novo universo foi criado, para além do universo que surgiu dentro dela. Um universo dela. Um universo dela... e dele. Um universo com tudo de novo para conhecer e descobrir. Todo um universo que nenhum dos dois, alguma vez, pensou conhecer ou, se quer, imaginar.
Tudo era real, e ela agora sabia-o. E agora que tinha entrado neste universo, de mãos dadas com tanta coisa nova e com tantas novas borboletas, não havia certezas de que sairia dali. Não havia certezas, se quer, se quereria sair. Algo dentro dela sabia que, mesmo se saísse, era neste momento, impossível sair igual ou mesmo voltar ao mundinho dela tal como o conhecera. Mas ela, definitivamente, não queria pensar em sair.
Não agora. Não agora que tudo fazia sentido, que nada nunca batera tão certo como até então. Não agora com tanto para ver, para cheirar, para tocar e abraçar, com tanto para sonhar e descobrir.
Não agora que o simples ar que respirava,
a fazia levitar.