Falar de amor.
Querem-me proibir de falar de amor: dizem que não sei o suficiente ou que sei de mais, dizem que sonho alto, dizem que a vida não é uma estória de encantar, dizem que não é um mundo cor de rosa.
E então, como se os sentimentos tivessem idade ou uma data de validade, dizem que não posso falar de amor. Como se não se pudesse sonhar só porque nem sempre as coisas correm como queremos. Como se o amor fosse uma coisa linear, uma coisa específica, querem fazer-me acreditar que não existe.
Estes descrentes, ateus de romance e qualquer outra coisa que faça lembrar o amor. E depois dizem que não sei falar de amor. Dizem que não se fala do que não se sabe, e como consideram demasiado a sério a hipótese de eu não saber o que é amor, dizem que não posso falar dele.
Mas eu não os ouço. Não os ouço e falo de amor. Porque gosto falar de amor e é a única coisa que acredito sem sombra de dúvida.
Sonho alto e falo de amor, e de todos os sonhos que tenho com ele. E dos castelos no ar que me faz criar, das estórias encantadas que imagino e me encantam. Falo de como muda o meu mundo, de como cria a minha bolha e um filtro especial.
Vivo num mundo cor de rosa, com uma pitada de realidade. Porque o mundo real é tão hipócrita, que o maior disparate do mundo, seria viver no mundo real com uma pitada de cor de rosa. Não preciso de me alienar ao que vem do mundo real, mas posso por um filtro cor de rosa, e tentar ignorar o máximo possível o que quer escurecer esse mundo. De qualquer maneira, poucos devem ser os que acham um rosa-escurecido bonito.
Não sei se vou estar sempre assim ... e até talvez, lá no fundo, examine a minha existência e saiba que tenho vários motivos que me pudessem fazer duvidar dele. Talvez às vezes, por pensar mais com a cabeça e por o coração de lado, tente desconfiar do amor, tente não acreditar na sua existência. Mas depois vêm os sonhos. Vêm as vontade e desejos, vêm os olhares apaixonados, os sorrisos perdidos de amor, os nervosos miudinhos. Vêm os dias que correm mal, quando se está mal de amores ... Ou mal com quem amamos. E vêm os dias de sol, os dias de magia, os dias de quase-explosão e de espalha-felicidade quando tudo se resolve.
Porque o amor é mais que paixão. O amor existe de todas as formas na nossa vida. E depois sabemos que ele existe, se abrirmos os olhos a isso: ao apaixonar, ao acreditar e desconfiar, ao abraçar e sorrir, ao discutir, ao proteger e querer saber. Porque o amor é o pior sentimento do mundo, tal é a intensidade que dói e nos faz sentir impotentes.
É por isso que acredito tanto: porque sentimos tudo. Sentimos as idas e as vindas, a felicidade e a mágoa, a energia e a derrota.
O amor não é hipócrita e mostra o lado mau do mundo (do coração, da cabeça, do corpo e da alma). E nós podemos fechar-nos ao amor, mas o amor continua lá, a existir, nós é que fechamos a porta (e esquecemo-nos de abrir a janela): é a velha história de "se partes do pressuposto que não acreditas em algo, já estás automaticamente a por a hipótese de que exista".
Mas vou falar de amor.
Vou falar de amor sempre que me apetecer. Do meu e dos outros. Do amor próprio e do amor por quem me rodeia. Da paixão e não só.
Vou sempre falar de amor e ser apaixonada pelo amor. E viver no meu mundo cor de rosa, sonhar com tudo o que tenho direito e com tudo o que as estórias de encantar me deixaram a acreditar.
E vou viver o amor em modo repeat, como se fosse a primeira vez. E talvez alguma vez, seja efetivamente a primeira. E talvez eu nem perceba... E talvez eu até já saiba qual é.