Sopro
Foi num sopro de vida, num momento indiscreto, num segundo perdido, num sorriso prepotente. Foi num relógio apressado, num passo acelerado, num abraço forte, apertado.... foi um beijo demorado. E foram juras de amor, foram mãos coladas de vontade e corpos colados de suor, foram olhares envergonhados, olhares desesperados, olhares impacientes, olhares crentes, olhares confiantes.
Foram palavras ditas e apetecidas, palavras escondidas e sentidas, palavras exibidas sem serem pensadas. Foram palavras como espadas, palavras como flores, palavras em guerra pesada, palavras numa luta de almofadas. E foste tu.
E fui eu. E fomos nós. Fomos eu e tu. Fomos os dois.
Fomos duas crianças inocentes e livres, fomos dois adolescentes tolos e insensatos, fomos dois idosos resmungões e sobreviventes. Estivemos juntos uma vida.
Fomos o sol e a lua, o mar e a areia, o céu e a terra. Fomos o frio e o quente, o sim e o não, o alto e o baixo, o dentro e o fora, o escuro e o claro, a luz e a escuridão, o dia e a noite, o verão e o inverno. Fomos antíteses e puzzles perfeitos. Fomos um abc, um sem número de coisas, criámo-nos e recriámos o mundo.
Vivemo-nos e vivemo-lo. Fomos nós. Ainda somos.
Fomos tudo. Somos tudo. E seremos mais ainda.