De repente ganho um sexto sentido e fico quieta, estática, imóvel, vejo-te aportar.
Manifesto-o em arrepios, manifesto toda a beleza do que construímos, manifesto cada palavra, cada ruga de expressão, cada canto do teu abraço, cada bater do coração.
Descubro no teu corpo, um mapa. rota de navegação, carta náutica, que me deixa embarcar, e me guia à confiança, e garanto-te como rumo certo, mantendo-te por perto.
Tal estrela do norte, que não me deixa perder. Bússula, Golpe de sorte.
Sorte grande. Tesouro.
E é indiscritível cada vez que chegas, e te aproximas, e me olhas, me beijas, me agarras, me dás a mão.
Guiamo-nos, um ao outro, corredor dentro, escadas acima, de rua em rua, de vida em vida, onda adentro, mar fora, e vamos, de mar em mar, em mar,
amar.
E sinto-te presente, sinto-te em mim. sinto-te meu, fico à deriva em ti, flutuando no que dizes e fazes, mergulhando no teu abraço, navegando pelo teu corpo, nessa tua praia paradisíaca, terra à vista, ilha de luz.
Cheiras a maresia.
Fico à deriva no teu alto mar, flutuo nas tuas águas fundas, corro e mergulho em ti... Descubro o caminho marítimo para fora das tormentas, sem receios e tempestades, e num só beijo, a esperança que trazes, esse Atlântico de emoções.
E resgatas-me de um naufrágio, como se Neptuno fosses. Fazes-me voltar à superfície, Salvas-me de um mar que não é teu, Fazes-me voltar a respirar,
E manténs-me acordada, manténs-me desperta, segura mesmo sem pé, seja em manhãs de calmaria, seja em altas marés.
Percorremo-nos de lés a lés.
E se éramos duas almas afogadas, virámos marinheiros um do outro, um no outro.
Esquece isso dos amores calorosos de verão. Esquece esses amores passageiros que vêm e vão e te encharcam de emoções fortes e sentimentos desmedidos, como qualquer onda do mar que testemunhou essa história. Esquece isso das pessoas que se vão com o calor e que têm medo de ficar quando o sol não é tão quente . Esquece esses amores - e nomes - que te dão sede, de tão salgados que são.
Já viveste um amor de inverno?
Um amor que não se assume, nem derrete. Um amor que se mantém frio e calculista durante toda a história dos vossos corações. Um amor que vem devagar e sem se anunciar.
Vem sem aviso, sem premeditação. Pé ante pé. Doce. Ele vem silencioso quando tu pensas que não vai acontecer nada...
É um amor que te chega inesperadamente, e talvez nem o reconheças, assim, tão disfarçado, quieto, e repentino, intenso demais sem nunca o ser em demasia. Na medida certa, na intensidade ideal, vem discreto, quase em segredo até para vocês os dois, que se derretem sem se aperceberem. E os dias que supostamente ficariam mais frios, curtos e, frequentemente, cinzentos, vão aquecendo, vão ficando cheios e imensos, de uma intensidade e vida que só visto (ou vivido, mesmo), vão ganhando uma panóplia de cores que nem sabias que existam. E vocês vivem-nos, sem perceberem, porque, afinal de contas, as folhas continuam a cair e a natureza perde o brilho na mesma, apesar de, na vossa bolha, haver calor, sol e luz no outono... ser pleno verão num absoluto inverno!
Os pores do sol ficam incríveis, ficam mágicos onde quer que os vejas - e parecem tão melhores que os de verão! Embebedas-te de emoção. Absorves energia. Passas a absorver tudo - mesmo sem saber. Porque, a verdade é que, e se os amores de inverno forem tão efémeros quanto os de verão? Apesar de, sem saberes, desejares que aquele momento (tudo aquilo) não acabe, vives tudo intensamente como sendo a última vez. Aliás, respiras e mergulhas em todo este enredo como se fosse a primeira e a última vez em simultâneo, como se tudo aquilo fosse novidade, algo único que pode acabar antes de começar. E tu não queres que acabe... Mas nem sabes disso. Ninguém sabe, ninguém percebe, ninguém vê nada ... nem mesmo vocês que só vão inteirar-se de tudo quando, efetivamente, for o fim. Ou o princípio do fim.
Ou, talvez descubram, com sorte, mais tarde - mas nunca demasiado tarde - que esse que soube a último era apenas o primeiro de muitos - vossos.
Ou, se calhar, toda a gente sabe, toda a gente vê e percebe, menos vocês - porque preferem admitir efemeridade. Preferem os amores de verão que toda a gente conhece, e querem viver um amor de verão ainda que fora de época. Quando, na verdade, têm tudo para viver um amor de Inverno - um amor de ano inteiro... e, talvez sem querer exagerar, um amor de vida inteira.
Crias verão em ti. Criam verão em vós. Criam um verão d'Inverno - dentro e fora de ti, dentro e fora de vós - com palavras que aquecem, com momentos de conforto, com detalhes improvisados que, provavelmente, não vais deixar ir tão facilmente. São coisas que se impregnam em nós, mesmo quando nos recusamos e, normalmente, nem percebemos. São sensações que nem sabias que existiam. São os abraços mais apertados sem que ninguém se toque. Afinal de contas, são estes os Verões que ninguém quer que acabem (e que tantos deixam ir)! São estes os Verões que todos querem e ninguém assume... Nem mesmo tu, que o vives tão imersamente como se estivesses a sobreviver, até então, para um inverno assim.
A verdade, é que cada pedaço de vocês se torna num ponto alto, numa forma intangível, numa descarga de endorfina. Boa disposição, humor - porque, afinal de contas, o verão é uma extravagância de energia positiva e boas sensações. E vocês são verão, juntos - são o arquetipo do Verão na sua plenitude, na sua imensidão.
E vocês estão nesse verão vosso, não é verdade? Nesse verão que começou, quando todos os outros apontavam o fim dessa estação. Nesse verão que durou todas as outras estações. Nesse verão que ninguém queria que acabasse além de vocês, que não sabem o que fazem.
Já viveste um amor de inverno?
Um amor que não se assume, nem derrete. Intenso, impremeditado, silencioso, improvisado, frio e calculista, que vem devagar e sem se anunciar. Doce. Espalha-se na tua vida, ainda que não percebas. E depois, despede-se do nada, acaba sem acabar, vai sem ninguém querer que vá.
Subi as escadinhas que davam até à tua porta e toquei à campainha como se fosse a primeira vez.
Era inevitável não me arrepiar ao chegar ali e em pensar em todas as hipóteses e histórias que se viveram e não poderiam esperar do outro lado da porta... estarias como eu? Eu tremia por dentro, vibrava de vontade de te abraçar, tinha o coração a mil com toda a conversa que nos levou até este ponto, tinha um aperto no peito com a possibilidade de estares a precisar tanto de mim como eu de ti, naquele instante.
Abriste a porta e olhámo-nos de alto a baixo como se fosse a primeira vez que nos víamos – talvez fosse a primeira vez que alguém realmente nos via em muito tempo. Segui-te como se estivesse nos corredores de um museu, um caminho que parecia um labirinto, entre umas paredes que se sentiam demasiado estreitas para a tensão e ansiedade que estava a gritar dentro de mim. Deixei-te levares-me onde me querias, deixei-te guiares-me pelo espaço, como achavas melhor. A minha ignorância do que fazer contigo (connosco) era demasiada! E não estava a conseguir ignorar, de todo, a vontade de te agarrar, de te acalmar, de te encostar ao meu peito: sem prudência, sem jeito, sem trejeitos, sem medos, ou desconceitos, ou segundas intenções.
Cada passo que davas, puxava-me mais para ti e tu, aí do teu canto, se calhar nem percebias. Estarias como eu?
Era inevitável não gostar de toda aquela situação. De toda aquela história que estavamos a criar quase de repente, quase sem querer, como se fosse a primeira vez.
E, de repente, tu paraste e viraste-te para mim. Olhaste-me de alto a baixo e viste-me como se nunca ninguém me tivesse visto, como se eu fosse a única pessoa à face da terra, parecias estar a estudar cada um dos meus traços, dos meus cantos, parecias decorar cada um dos meus sinais. Arrepio na espinha. Senti-me como se me estivesses a criar à medida que os teus olhos percorriam cada milímetro meu e eu ia aparecendo diante de ti, despida de noções e teorias. Senti o meu corpo aparecer como nunca, e senti a minha alma derreter aos teus pés. Senti-me como se finalmente alguém me visse – alguém me quisesse ver. Arrepio na nuca. Estarias como eu?
Estendeste-me a mão, e a minha não se inibiu nem um pouco em aproveitar o embalo. Puxaste-me para ti, assim que os teus dedos sentiram os meus. Os nossos corpos esbarraram como se fosse a primeira vez e senti mais um arrepio em mim, que desta vez levou exatamente o mesmo percurso que os teus olhos tinham feito momentos antes. Agora sim, era inevitável não gostar de toda aquela situação... Sensação. Os meus sentidos cruzaram-se dentro de mim: euforia, harmonia, sinfonia, poesia. Vi o filme da minha vida diante dos meus olhos, naquele instante. Vi todo um futuro desenhado pela minha imaginação e adivinhei cada toque, cada carinho, cada palavra silenciosa que se seguiu. Estarias como eu?
Despedimo-nos da vida, da rotina e do dia. Despimo-nos de nós . Focámos no ninho que tinhamos encontrado um no outro - e não importava o tempo lá fora. Ouvia-se chuva, ouvia-se vento e trovoada: sentiamos sol, sentia-te Sol. Fogo. Escutámos silêncio, escutámo-nos no silêncio. Dançámos corredor fora: descoordenados, como quem não sabe dançar (e não faz ideia do que vai acontecer) mas tão sincronizados! Embebedámo-nos um no outro (um do outro). Mergulhei nesses olhos que pareciam ver-me por dentro, que pareciam querer ler-me por completo. Tropecei, quase sem querer em ti e aterrei, sem proteção, em tudo o que éramos naquele momento. Fechei os olhos e segui guiada pelo magia do inesperado.
Não sabia o que viria dali. Tu saberias? Terias estudado tudo, como me estudaste a aura?
Eu não fazia ideia... mas aquela dança desmedida de olhares, aquela sintonia de arrepios, aquela explosão de sentidos, auguravam tudo de bom.
" Achas que posso ter mais um beijo? Eu encontrarei o final nos teus lábios e depois vou.
Talvez também mais um pequeno almoço, mais um almoço, mais um jantar. Eu estarei completa e feliz e depois podemos separar-nos.
Mas, entre as refeições, achas que podemos deitar-nos uma vez mais? Mais um momento prolongado em que o tempo fica suspenso indefinidamente e eu pouso a minha cabeça no teu peito.
A minha esperança é que adicionarmos tantos "mais um" que equivalerão ao tempo de uma vida e nunca cheguemos à parte em que eu te deixo ir.
Mas isso não é real, pois não? Não há mais "mais um".
Conheci-te quando tudo era novo e excitante e as possibilidades do mundo pareciam não ter fim. E ainda são. Para ti. Para mim. Mas não para nós. Algures entre o depois e o agora, o aqui e ali , eu penso que não nos fomos separando... apenas fomos crescendo.
Quando alguma coisa parte, se as peças são suficientemente grandes, tu és capaz de consertar. Infelizmente, às vezes, as coisas não partem: elas estilhaçam-se. Mas quando deixas a luz bater, o vidro estilhaçado brilha. E, nesses momentos - em que os pedaços do que éramos apanharem sol - eu vou lembrar-me de quão bonito foi. De quão bonito será, sempre.
Porque éramos nós. E nós fomos magia. Para sempre. "
Excerto do filme da Netflix : SOMEONE GREAT / ALGUÉM ESPECIAL, com Gina Rodriguez.
(Não podia deixar de partilhar, esta despedida maravilhosa ao amor.)
Olhei-te de alto abaixo e sorri. Se tivesse sido eu a pintar-te, antes de te ver, acho que te teria feito exatamente assim: sem tirar nem por. Tinhas o cabelo meio desarrumado, a pele um pouco marcada pelo sol, as bochechas ligeiramente coradas, os olhos de brilho praticamente constante, uma borbulha com ar de teimosa junto do nariz, uma barba semi-aparada, uma pinta aqui e ali quase como se fossem feitas a marcador. Acho que o que me fez ficar ligada a ti foi precisamente isso: a tua incoerência perfeita, os teus quases que eram tudo. O sorriso meio desesperado, meio esperançoso e o olhar meio atrapalhado, meio decidido. O estares no equilíbrio, sem pender para nenhum lado. O estares no meio, como se esperasses uma metade que te completasse.
Um dia, assim por segundos - porque segundos bastaram - eu vi-te.
Vi-te a ti e a uma silhueta que reconheci dos sonhos. Vi-te a ti e a uma figura familiar. Até o teu cheiro era aconchegante de tão familiar, eu diria.
Acho que conseguiria fazer o teu retrato perfeito, mesmo não sabendo desenhar. Mesmo não sabendo tocar, acertava na música perfeita para te descrever. Tu és poesia e eu saboreei cada palavra segredada pelos teus movimentos. Tu és aquela sobremesa, que está mesmo a apetecer e sabe tão bem como parece: não devia dizer a ninguém, mas os teus beijos são açúcar (e isso, eu só soube depois).
Tu és verão, eu sei: no mais frio dos invernos emanas praia paradisíaca. Consigo sentir a tua tez salgada, o cabelo encrespado, os olhos brilhantes, os lábios secos, mesmo tu sendo o serzinho mais suave de sempre, como seda. Ou veludo. Ou pétalas de rosa.
Tu és ritmo: aquele que às vezes imaginamos e não sai da cabeça, aquele que é inesperado mas que aumentamos de volume e cantarolamos juntos.
Tu és o meio. O todo e a metade. Estavas no equilíbrio que sempre presei, no meio do oito e do oitenta, no meio do frio e do calor, no meio do claro e escuro, no meio do óbvio e do duvidoso. E esse sítio era o perfeito para ti, porque te relevava. Porque eras tudo no incompleto e estavas incompleto no meio de tudo. E esse equilíbrio salientava esse aspeto. E como eu gostei desse aspeto!
Acho, genuinamente, que essa é a tua maior qualidade: o poderes ficar completo comigo.
E, no entanto, tu não o sabes. Andas como um completo ignorante deste facto, mexes-te como se não fosse nada contigo, e chegas como se fosses a coisa mais normal do mundo. Mas não és.
Quando entreabri os olhos de manhã, pronta a enfrentar um novo dia que eu esperava que fosse tão bom como o meu acordar, já só vi a tua silhueta a compor o casaco, de costas para mim.
Aquele casaco que tinhas no dia em que te conheci, aquele casaco do nosso primeiro encontro que me ofereceste na cena cliché do "está um pouco de frio, não está?", aquele casaco que eu agarrei com tanta força no nosso primeiro beijo, aquele casaco que eu te roubo, sorrindo e cantando, cada vez que o vejo pousado em qualquer lado... aquele casaco que me faz derreter todinha! Era inevitável lutar contra o desejo de puxar esse casaco - e a ti - para mim, contra mim, a favor de mim e de todas as emoções que todos os teus gestos e não-gestos me provocaram.
E tu ali: tão metido nas tuas coisas, tão metido nos teus pensamentos e na tua rotina, que nem te apercebeste do quão observado estavas a ser, do quão estudado ao pormenor, do quão percorrido. E eu estática, numa viagem incontrolável pela tua pessoa, seguindo por curvas e contracurvas já tantas vezes decoradas, perdida naqueles pormenores que eu saberia descrever de olhos fechados.
E aquele casaco acentava-te tão, mas tão bem! Caía-te tão bem sobre os ombros, descaía-te tão bem pelas costas, combinava tão bem com o teu tom de pele e com o teu corte de cabelo. E ficava ali tão bem a dar-me os bons dias, contigo dentro dele, sem me veres.
Acho que esta cena ia ficar ali na minha cabeça o resto da vida. Aqueles escassos segundos em que te ajeitavas e me brindavas com a tua essência, com o teu jeito, com o teu cuidado. Se bem que já era um déjà vu ter-te assim para mim e ver-te assim para mim. E fazia-me sentir tão, mas tão, mas tão bem!
Não sei ao certo o que me fazia bem (ou o que me fazia melhor): se o teu reflexo na janela, se a tua silhueta ali no meu horizonte (dando ainda mais força à verdade mais certa do universo: tu eras o meu horizonte), se a tua água de colónia acabada de perfumar o quarto. Eu juro que tinha uma necessidade tão grande de me esperguiçar e de sair da cama, mas era tão melhor olhar-te, sem sair do meu sonho, sem despertar totalmente, sem sair do nosso casulo que ainda cheirava a ti e me abraçava...
Mas tu estavas pronto. Aliás, estavas mais que pronto: estavas vestido, perfumado, de cabelo ajeitado e de blusão vestido. E eu tinha todo um novo dia a chamar por mim, por mais que os lençóis me prendessem e a vida parecesse estagnada quando te estudava assim.
Espreguicei-me. Tu viraste-te e todos aqueles segundos em que te estudei, fizeram ainda mais sentido: o teu sorriso cumprimentou-me. As ruguinhas desenhadas nos teus olhos por esse comprimento fizeram-me vibrar. Como eu gostava daquelas manhãs, como eu gostava do teu sorriso.
Deste-me um beijo na testa e sussurraste-me um bom dia.
Puxei com força o teu blusão, beijei-te a bochecha, beijei-te levemente os lábios.
"Bom dia e até logo, meu amor".
Sentei-me na cama para me preparar para um novo dia. O blusão saiu pela porta e tu foste com ele, balançaste sobre a ombreira da porta, espreitaste para dentro, olhaste para mim.
"Então até amanhã, no sítio do costume" - disse eu para dentro, depois de o meu coração entrar em choque ao aperceber-se de mais uma chance perdida de te pertencer, ao aperceber-se que desperdicei mais um dia da minha vida contigo...
"O sítio do costume"! O frio dos amanheceres e anoiteceres de inverno, as voltas e passeatas rotineiras, as paredes despidas, a calçada portuguesa, a nossa rua, tu, eu. A nossa falta de sentido de oportunidade (ou falta de agarrar as oportunidades que temos). E eu começo a achar que temos a mesma medida de vontade que temos de falta de coragem.
Sim, porque eu dou voltas para me cruzar contigo, e tu dás voltas para me ver. E depois vemo-nos, efetivamente. Vemo-nos, cruzamo-nos, olhamo-nos, sorrimo-nos e continuamos a nossa vida, como se não déssemos um ao outro a importância que efetivamente damos. E eu fico com um sorriso tonto quando finalmente te (re)encontro e penso no que as pedras da calçada diriam se falassem.
Começámos esta troca de olhares envergonhada, começámos os sorrisos mútuos, começámos os cruzamentos inúteis. E as vezes que já esperei por ti, sem te esperar! É ridículo, não é? Querer falar-te e não conseguir? Tentar adivinhar por onde andas quando te podia, simplesmente, acompanhar? É rídiculo, não é? Não te esperar? Esperar-te depois de me afastar uma distância considerável de ti? Esperar-te só porque é mais fácil ver-te a aproximar que me aproximar? Esperar-te depois de ter ignorado totalmente essa chance cada vez que o meu corpo passa a poucos milímetros do teu, quando por uma questão de poucos átomos não nos tocámos... E o coração acelera: é um misto de adrenalina, vontade e desilusão por me querer mexer consciente e saber que o meu inconsciente não vai querer dar o passo em frente. E se aquelas paredes dissessem o que vêem...
"MERDA para os mecanismos involuntários do nosso cérebro!", digo eu que tanto queria contorná-los. E se calhar isto é inútil mesmo, e somos apenas duas pessoas por aí. Se calhar és apenas um sinal de que a vida corre e a rotina está dentro dos conformes e eu dentro dos horários. Se calhar tudo não passa de uma rasteira do destino. Se calhar tu és só tu e eu sou só eu, e cada um de nós só foi feito para andar na mesma rua... E um "bom dia" era tão fácil de dizer.
Gostava de poder adivinhar-te. Gostava de poder encontrar-te, sem receio de ficar sem ti. Gostava de perceber os nossos encontros e desencontros. Gostava que a nossa rua falasse.
Para todos os efeitos, sempre me apaixonei fácil, sempre entreguei tudo de mim, apesar de não me entregar facilmente. Mas desta forma nunca me tinha acontecido.
Apareceu do nada, como quando o vento muda de direção e eu, que tinha tudo tão (re)definido na minha cabeça, vacilei.
Apareceu como uma lufada de ar fresco, como uma luz ofuscante ao fundo de um túnel escuro como breu, que eu percorria há tempo de mais e não conseguia sair por nada. Apareceu como uma madrugada de primavera, quando finalmente, está a ser anunciada a chegada do verão. Chegou e levou tudo à frente, trouxe-me tudo o que faltava. Trouxe-me o sorriso sincero, o riso aberto e verdadeiro, trouxe-me o tremer interior e o nervoso apaixonado. Trouxe-me o medo de acabar antes do suposto. E já não consigo perceber o significado das coisas se a presença não for uma realidade e se a ausência estiver tão presente como o meu sorriso.
Veio não sei de onde, não sei como, não sei porquê. Mas sei o quando...e o quanto bem me fez - e faz!
Trouxe-me o sentido de orientação que há tanto tempo não tinha, e que não sei se quero perder (e apesar de me orientar tanto, nunca me senti tão desorientada). E não sei se foi ele que chegou, se fui eu que fui. Às vezes acho que fomos os dois, mas depois sinto-o que a puxar-me de onde eu estou. Às vezes acho que fomos os dois, mas depois olho e apercebo-me de que andava à sua procura. Às vezes acho que fui eu, mas sinto que foi ele que me encontrou onde quer que eu estivesse encostada. Às vezes acho que foi ele, mas depois parece que era tanto o que eu precisava que era impossível tudo isto existir, se não fosse eu a precisar. Às vezes acho que não foi ninguém... ninguém cá em baixo, pelo menos.
E veio não sei como, não sei porquê... Não sei porquê só agora - e logo agora!
E há muitos "não sei". Tantos "não sei"! Há muitos "se", muitos "ainda", há muitos "mas" e "porquê". Mas não mudava nada deste encontro inesperado e assolapado. E aconteceu tudo tão rápido! E é tudo tão bom! E faz-me tão bem! E mesmo com todas as dúvidas que sobrevoam, todas as incertezas, todo um horizonte em branco, sem ideia do que trarão os próximos ventos, se dependesse de mim para acontecer, eu estaria precisamente aqui, neste ponto, com ele.
E é tanta coisas que se quer dizer e as palavras calam-se. E é tudo tão inédito, invulgar, extraordinário... e é tudo tão irresoluto, tudo tão incerto! E eu, mesmo assim, gosto tanto!
E eu falo de nós sem respirar, para não interromper e com medo de pausar algo tão bom ou mesmo de usar um ponto final no que já trouxe tanto e está só no início. Falo de nós como uma criança que acabou de receber o presente que mais pediu; falo de nós como um atleta que acabou de alcançar uma medalha de ouro mundial; falo de nós com o entusiasmo de um ator que ganhou um Oscar. Falo de nós com a energia de 20 cafés, como se não houvesse tempo para dizer tudo o que se quer, mas tivesse todo o tempo do mundo para abraçar a paz e tranquilidade que me traz. Porque é assim que me sinto, com ELE: como se não houvesse tempo suficiente para compensar todo o tempo em que ele não esteve e não está, mas tivesse todo o tempo do mundo para viver este "nós" tão único, tão de repente, tão estranhamente bom.
E são tantos sentimentos, tantas palavras, tanta rima, tanta fala, tanto silêncio, tanta vontade de fazer tudo... que, mesmo longe, o sinto perto; que mesmo separados, o sinto abraçar-me; que mesmo no escuro, o vejo. E o resto do mundo parece conspirar contra nós, mas os nossos mundos cruzaram-se como se o resto do Universo conspirasse a nosso favor.
E é tudo tão estranho. E parece que nada dá para exprimir o suficiente, que nada explica claramente tudo o que se passa. E parece que por mais que repita todas estas palavras, nada faz jus à nossa história.
E é tudo tão estranho, tão hipotético. E é tudo tão, tão, tão bom!
prometo-te o meu toque, prometo-te o meu abraço, prometo-te o meu olhar derretido, prometo-te o meu sorriso babado, os meus ouvidos atentos, as minhas pernas bambas, as minhas mãos desertas por te terem.
Prometo-te as minhas palavras mais sinceras, os meus gestos mais apaixonados, os meus desejos mais profundos e os meus sonhos mais bonitos. Prometo fazer tudo o que estiver ao meu alcance para teres a teu lado a melhor pessoa, a melhor menina, a melhor mulher e a tua melhor amiga. Prometo desafiar-te, prometo ser curiosa, prometo animar-te, prometo ser conselheira, prometo guiar-te quando te sentires perdido, prometo encontrar-te sempre, prometo ouvir-te e abraçar-te quando não quiseres falar, prometo acordar-te quando tiveres pesadelos e realizar os teus sonhos. Prometo estar sempre presente. Prometo desejar-te. Prometo tratar de ti. Prometo engordar-te e fazer-te correr.
Prometo-te os teus melhores dias e o ressaltar o melhor de ti. Prometo-te as tuas piores palavras e vir ao de cima o pior de ti. Prometo-te o melhor sono da tua vida e prometo (tentar) tirar-te o sono. Prometo-te os altos e baixos do costume.
Prometo-te ser eu. Prometo-te o pior e o melhor de mim. Prometo surpreender-te. Prometo desiludir-te. Prometo orgulhar-te. Prometo, definitivamente, tirar-te do sério. Prometo controlar-me e prometo descontrolar-me. Prometo descontrolar-te. Prometo-te todo o meu mau feitio e os meus defeitos, prometo que vou falhar e prometo desapontar-te. Prometo pedir-te desculpa. Prometo-te não ser perfeita. Prometo-te os meus melhores e piores momentos. Prometo-te todos os meus sentimentos, prometo-te todas as minhas vontades, prometo-te todo o meu caráter, prometo-te cada pensamento, prometo-te todos os meus valores, todos os meus olhares apaixonados, toda a minha força, todos os meus quereres, todo o meu espaço. Prometo-te todo o meu corpo e toda a minha alma, toda a minha aura. Todo o meu ser.
Prometo querer-te por inteiro.
Prometo querer-te por perto.
Por favor, fica por perto. E eu prometo estar aqui para ti, se tu estiveres sempre aqui, completo, só para mim. Prometo sentir a tua falta cada segundo longe de ti e correr sempre para ti (e contigo). Prometo segredar-te que fico contigo, para ti e para nós... Prometo-te tudo isto e mais ainda, bastando-me prometeres a ti.
Normalmente, quando as coisas não estão bem, o nosso corpo amolece, não temos vontade de sair da cama. Enfrentar o dia lá fora é algo que queremos, com todas as coisas, evitar. Deprimimos, custa a respirar... custa saber que temos dúvidas se realmente queremos voltar a respirar. Não adianta: as memórias boas, os momentos incríveis... parece que ainda nos derrotam mais.
Estamos cansados. Estamos moles. Estamos em baixo (sentimo-nos no fundo). Estamos partidos. Estamos com todo o peso do mundo em cima. Sentimo-nos impotentes, nervosos, incapazes de fazer o que quer que seja. E a vida parece que nunca mais vai acenar uma bandeirinha branca.
Normalmente, não queremos ver o tempo passar. Queremos que o mundo fique exatamente onde estava quando esta sensação de vazio começou. Queremos refazer tudo, como se mudasse efetivamente alguma coisa. Mudaria?
Às vezes, esperamos tanto tempo por uma réstia de momento com felicidade extrema que, de repente, quando eventualmente, por qualquer momento, esse momento desvanece, parece que nunca mais vai regressar. Entristecemos ainda mais. Voltará?
Voltaremos a sentir toda aquela explosão? Voltaremo-nos a sentir em êxtase com a vida? Sorriremos? Teremos novamente felicidade para abraçar de vez?
Normalmente é assim que acontece, e parece que nunca somos suficientes. Seremos? Serei?
Normalmente é assim que acontece... Mas desta vez as memórias têm efeito calmante. Desta vez, os bons momentos fazem-me sorrir, apesar de todo o resto à volta estar enevoado longe - e parece tão, tão longe! - de se ver qualquer traço de céu azul! Desta vez, apesar de tudo estar tão errado, consigo sentir algo a continuar a vibrar cá dentro. Desta vez, mais que mágoa, sinto gratidão e tudo o que foi dito dá esperança, tudo o que foi pensado dá friozinho na barriga, todas as respirações junto a mim continuam a arrepiar como se fossem, ainda, reais.
Todos os olhares continuam presentes como se de um bom presságio se tratasse. Será um bom presságio ou uma despedida, porque não voltarão?
Normalmente, a vida acontece e nada acontece "porque sim". Mas queremos que os "porque sim" se encaixem dentro da vida. Eles são tentados a entrar dentro da vida... e dos sonhos.
Normalmente, quando o corpo amolece, perdemos a paz, perdemos a esperança e tudo o que foi bom magoa. Desta vez, perdi a paz, mas mantive as borboletas agitadas na barriga, e tudo o que foi bom aquece e aconchega (e os dias estão tão frios e cinzentos neste quase-inverno que parecia impossível aquecer a alma!). A esperança está um pouco baralhada, mas ao menos, o que foi bom, faz continuar a sorrir timidamente (mesmo que apenas por segundos, até a realidade voltar). Mas ao menos, o que foi bom, faz ter sonhos que aquecem a vida e o coração neste quase-inverno gelado.
Mas, ao menos, mesmo sem tudo correr bem, tudo gira à tua volta, tudo cheira a ti, tudo me leva a ti e, quando sinto a tua presença neste quase-inverno, eu posso estar a sentir todo o resto, mas sei que não vou sentir frio.