Tempo.
Vem comigo.
Vamos, que nós temos tempo,
Ainda vamos a tempo,
De parar o tempo que passa,
imediato, tardio
tão a correr, tão vazio,
tão frio e fugaz
que acelera, atropela,
sem dó, sem piedade,
sem pausa, sem espera,
sem tempo a perder,
Como se estivesse atrasado,
Como se não se quisesse estender
Como se não fizesse entardecer.
Vamos juntá-lo!
Transformá-lo.
Logo, logo, sem tempo.
Transformamos um segundo num milénio,
Eternidade num momento,
presunçoso mistério:
Cénico, lírico.
Etéreo. Efémero.
Intenso, sincero.
Solene. Perpétuo.
Justo. Juntos.
Estamos juntos?
Vem comigo.
Reunimos o tempo.
Reunimos com tempo.
Reunimos. Unimos.
Unimo-nos.
Uníssonos.
Sem contratempo:
que o tempo que passa
faz de nós um passatempo.
Rapidamente esquece.
Desvanesce. Decresce.
E em modo lento,
o tempo estremece,
quando assaltamos ponteiros,
Avariamos o relógio.
Somos um ápice .
Momento inoportuno,
Um segundo absurdo,
Mundo mudo,
De silêncio profundo,
Que já foi.
História.
Passado, presente,
Fado, destino, sina,
Premonição, futuro.
Desígnio.
Eco.
É que o
tempo tem asas,
Não retrocede, repete ou pára
entre tardes, noites,
madrugadas,
Alvoradas caladas.
Não tardes.
Vamos juntos?
Veríamos nascer auroras,
Mais tarde, o crepúsculo dizer "Olá" à lua.
E se não “já”, então quando?
Mais tarde já não é agora,
Somos. Fomos.
E num instante o tempo muda de rua.
Morremos.
E o tempo? Continua.