Marinheiros.
De repente ganho um sexto sentido
e fico quieta,
estática,
imóvel,
vejo-te aportar.
Manifesto-o em arrepios,
manifesto toda a beleza do que construímos,
manifesto cada palavra,
cada ruga de expressão,
cada canto do teu abraço,
cada bater do coração.
Descubro no teu corpo, um mapa.
rota de navegação,
carta náutica,
que me deixa embarcar,
e me guia à confiança,
e garanto-te como rumo certo,
mantendo-te por perto.
Tal estrela do norte,
que não me deixa perder.
Bússula,
Golpe de sorte.
Sorte grande.
Tesouro.
E é indiscritível
cada vez que chegas,
e te aproximas,
e me olhas, me beijas,
me agarras, me dás a mão.
Guiamo-nos, um ao outro,
corredor dentro,
escadas acima,
de rua em rua,
de vida em vida,
onda adentro,
mar fora, e vamos,
de mar em mar,
em mar,
amar.
E sinto-te presente,
sinto-te em mim.
sinto-te meu,
fico à deriva em ti,
flutuando no que dizes e fazes,
mergulhando no teu abraço,
navegando pelo teu corpo,
nessa tua praia paradisíaca,
terra à vista,
ilha de luz.
Cheiras a maresia.
Fico à deriva no teu alto mar,
flutuo nas tuas águas fundas,
corro e mergulho em ti...
Descubro o caminho marítimo
para fora das tormentas,
sem receios e tempestades,
e num só beijo, a esperança que trazes,
esse Atlântico de emoções.
E resgatas-me de um naufrágio,
como se Neptuno fosses.
Fazes-me voltar à superfície,
Salvas-me de um mar que não é teu,
Fazes-me voltar a respirar,
E manténs-me acordada,
manténs-me desperta,
segura mesmo sem pé,
seja em manhãs de calmaria,
seja em altas marés.
Percorremo-nos de lés a lés.
E se éramos duas almas afogadas,
virámos marinheiros um do outro,
um no outro.