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#EsteOutroMundo

#EsteOutroMundo

Amizade.

A ti, que estás sempre comigo, mesmo quando não estás!
A ti que não me deixas cair e me pedes ajuda, porque assim a vida fica mais fácil.
A ti, que dou abraços sentidos e consigo sentir tudo o que sentes. 
A ti que me defendes, mesmo quando não quero e me proteges, mesmo quando acho não ser preciso.

A ti que estás lá no meu pior e, por isso, mereces todo o meu melhor... 
A ti, que sabes que podes sempre contar comigo.
A ti, com quem partilho o meu mundo, e vivo o teu tão intensamente.

A ti, que me incluis na tua vida, a partilhas comigo e deixas a minha tão mais colorida.

A ti, que me levas a fazer coisas que eu nunca pensei fazer.

Tu... Tu não és de sempre, mas és de agora.
Não és de infância, mas és do amadurecimento.

Contigo, vou ali e já venho, sem pressas.
Vamos sair e dançar, comer e beber, e descobrir, e viajar por aí e sem sairmos do lugar...
Continuamos a chorar, a sorrir, e rir, e ver... continuamos a descobrir tudo... A viver.
A celebrar as vitórias, a chorar as derrotas.
Que as aventuras continuem.

A ti, Obrigada.

"Amar é dar a alguém a paz que o mundo tira".

Deixemo-nos de cenas : a vida e o mundo de hoje em dia são - inevitavelmente - stressantes. Nós sobrevivemos, claro: cada vez desenvolvemos mais e melhores ferramentas para cuidarmos de nós próprios, para aproveitarmos ao máximo a nossa própria companhia, para cultivar o amor próprio (que palavra cliché, não é? parece que agora pegou moda, mas nem nunca devia ter saído de circulação), para sabermos namorarmo-nos e gostar de nós porque "se não gostarmos de nós quem gostará"? Mas ninguém sobrevive completamente sozinho.

Precisamos de ninhos para aterrarmos (nem que seja de vez em quando), marinas-colo para desembarcarmos em bom porto, pessoas-abrigo, abraços-casa.

Esqueçam a paixão - diz-vos uma romântica incurável, uma apaixonada assumida. Aprendam que para além de o amor poder ter várias formas, nem sempre começa com pernas bambas e corações acelerados, nem sempre nos apaixonamos, nem sempre derretemos. Há amores que começam devagar, há amores que são apenas amizade e amores que começam em amizade, há amores sem paixão - dos amores românticos ou não - e há os amores loucos de paixão.

Aceitem pessoas em ponto-lagarta, e tragam cores à vossa vida . As pessoas - e as relações - sofrem metamorfoses e nós devíamos encher a nossa vida de borboletas! Semear palavras, plantar gestos e viver num jardim - num jardim que, obviamente, temos de cuidar para se manter bonito.
Sejam a paz de alguém, e cultivem (cativem, cuidem) quem vos traz paz.
Tenham quem vos sossegue, quem vos traga boas energias, quem vos faça vibrar, quem vos anima e faz (sor)rir. Tenham quem vos é calma, porque no fim do dia - no fim da (rotina da) vida e nos "fins dos mundos" todos por que o nosso mundo passa - quem nos ama é quem nos embala, quem nos acolhe e cuida, quem nos é - e traz - paz.

(E, se não trouxer paz, deixem ir.)

Ensina-me a voar.

Deixa-me ter-te.

 

Deixa-me abraçar-te de manhã, como se percebesse que o teu cheiro não é um sonho, ter o teu desenho na minha cama quando te levantas e perceber que o teu tão ambicionado regresso é tão efetivo como a minha existência. Acho que sinto falta da nossa essência e tudo o que ainda não fomos . Deixa-me passar-te os olhos, observar-te de alto a baixo, de baixo a alto, de frente - olhos nos olhos, mãos nas mãos, coração no coração, abraço em abraço.

 

Deixa-te de coisas: deixa-me comprovar-nos e provar-nos - sem medo dos dissabores, sem medo do agridoce, às vezes tão amargo, sem medo do menos bom, sem medo do que pode correr mal... Somos mel e prometo não deixar estragar. Deixa-me aceitar-te - a ti, aos teus defeitos, aos teus efeitos e manifestos e a tudo o que és tu e me faz tão bem. Deixa-me provar-te que conseguimos ir à lua e viver sem gravidade - flutuando mundo fora, gravitando vida fora, cometendo o erro de cair na rotina, sem virarmos enfado, sendo agudos tão melódicos, tão sinfónicos, tão eufóricos, vivendo o crime tão fácil - e irrisório, nada grave - de sermos felizes.

 

Deixa-te de coisas. Deixa-me contigo. Deixa-te comigo. Entrega-te a nós e à nossa luta. Não desperdicemos um segundo mais sem nos deixarmos ser.

Deixa-me deixar-nos levar. Leva-nos aos dois, nesse teu bolso estilo infinito, tal fotografia nunca tirada, tal retrato de casal maravilha, tal papel com recado mais que importante, nota delirante, sem qualquer ponta de delírio - que viramos tão reais quanto a nossa existência. Guarda-me no teu sorriso torto, que eu tanto namoro. Deixa-me perder-me no teu peito que tanto me preenche, por dentro, por fora, por sempre, por ora, e de antes em diante. Desperta-me os sentidos. Vivamos estas nossas parábolas (sem imoralidades, porque fazemos tudo bonito) - moral da história, viras epopeia de perdição que insiste em ser narrada. Prosa poética a ser lida, interpretada, como dissertação de química, tese de física, de gastronomia, anatomia, astrologia e astronomia.

 

Deixa-te de coisas e leva-me ao céu... vemos as estrelas (de perto) - que tu pareces perceber algo disso. Tu já me dás asas, mesmo que não queiras... e, por isso, quem sabe, ensinas-me mesmo a voar.

Arrepios.

Subi as escadinhas que davam até à tua porta e toquei à campainha como se fosse a primeira vez.

Era inevitável não me arrepiar ao chegar ali e em pensar em todas as hipóteses e histórias que se viveram e não poderiam esperar do outro lado da porta... estarias como eu? Eu tremia por dentro, vibrava de vontade de te abraçar, tinha o coração a mil com toda a conversa que nos levou até este ponto, tinha um aperto no peito com a possibilidade de estares a precisar tanto de mim como eu de ti, naquele instante.

Abriste a porta e olhámo-nos de alto a baixo como se fosse a primeira vez que nos víamos – talvez fosse a primeira vez que alguém realmente nos via em muito tempo. Segui-te como se estivesse nos corredores de um museu, um caminho que parecia um labirinto, entre umas paredes que se sentiam demasiado estreitas para a tensão e ansiedade que estava a gritar dentro de mim. Deixei-te levares-me onde me querias, deixei-te guiares-me pelo espaço, como achavas melhor. A minha ignorância do que fazer contigo (connosco) era demasiada! E não estava a conseguir ignorar, de todo, a vontade de te agarrar, de te acalmar, de te encostar ao meu peito: sem prudência, sem jeito, sem trejeitos, sem medos, ou desconceitos, ou segundas intenções.

 

Cada passo que davas, puxava-me mais para ti e tu, aí do teu canto, se calhar nem percebias. Estarias como eu?

 

Era inevitável não gostar de toda aquela situação. De toda aquela história que estavamos a criar quase de repente, quase sem querer, como se fosse a primeira vez.

E, de repente, tu paraste e viraste-te para mim. Olhaste-me de alto a baixo e viste-me como se nunca ninguém me tivesse visto, como se eu fosse a única pessoa à face da terra, parecias estar a estudar cada um dos meus traços, dos meus cantos, parecias decorar cada um dos meus sinais. Arrepio na espinha. Senti-me como se me estivesses a criar à medida que os teus olhos percorriam cada milímetro meu e eu ia aparecendo diante de ti, despida de noções e teorias. Senti o meu corpo aparecer como nunca, e senti a minha alma derreter aos teus pés. Senti-me como se finalmente alguém me visse – alguém me quisesse ver. Arrepio na nuca. Estarias como eu?

Estendeste-me a mão, e a minha não se inibiu nem um pouco em aproveitar o embalo. Puxaste-me para ti, assim que os teus dedos sentiram os meus. Os nossos corpos esbarraram como se fosse a primeira vez e senti mais um arrepio em mim, que desta vez levou exatamente o mesmo percurso que os teus olhos tinham feito momentos antes. Agora sim, era inevitável não gostar de toda aquela situação... Sensação. Os meus sentidos cruzaram-se dentro de mim: euforia, harmonia, sinfonia, poesia. Vi o filme da minha vida diante dos meus olhos, naquele instante. Vi todo um futuro desenhado pela minha imaginação e adivinhei cada toque, cada carinho, cada palavra silenciosa que se seguiu. Estarias como eu?

Despedimo-nos da vida, da rotina e do dia. Despimo-nos de nós . Focámos no ninho que tinhamos encontrado um no outro - e não importava o tempo lá fora. Ouvia-se chuva, ouvia-se vento e trovoada: sentiamos sol, sentia-te Sol. Fogo. Escutámos silêncio, escutámo-nos no silêncio. Dançámos corredor fora: descoordenados, como quem não sabe dançar (e não faz ideia do que vai acontecer) mas tão sincronizados! Embebedámo-nos um no outro (um do outro). Mergulhei nesses olhos que pareciam ver-me por dentro, que pareciam querer ler-me por completo. Tropecei, quase sem querer em ti e aterrei, sem proteção, em tudo o que éramos naquele momento. Fechei os olhos e segui guiada pelo magia do inesperado.

 

Não sabia o que viria dali. Tu saberias? Terias estudado tudo, como me estudaste a aura?

Eu não fazia ideia... mas aquela dança desmedida de olhares, aquela sintonia de arrepios, aquela explosão de sentidos, auguravam tudo de bom.

Por mares já navegados

Um dia desapareceste entre espuma branca e ondas altas, em direção a Sabe-se-lá-onde. Nesse momento, pensei-te navegante de outros mares para sempre, pensei-te explorador de outras costas, entusiasta de outras encostas, longe de qualquer vista mar.

Mas depois tu decidiste um regresso e aportaste no meu cais, de novo, quando te pensava entre ondas e marés. Aportaste no meu cais, talvez perdido de tormentosas tempestades, talvez oriundo de terras distantes, talvez, quem sabe, das profundezas do oceano, talvez indisposto da viagem, talvez sem saber onde o destino te traria.

Horas, dias, meses: o tempo que passara era-te desconhecido (na verdade, até para mim) e eu olhava para ti como se olhasse para o meu horizonte, sem saber como te acalmar deste teu fado impetuoso (se saber como me acalmar desta incerteza imprevisível), sem saber como esclarecer as dúvidas que terias, sem saber como te ler esse olhar impenetrável que diz o contrário do que os teus lábios pronunciam. A verdade é que, quando partiste, julguei-te perdido para sempre, julguei-me desprendida de ti, julguei solução as ruas mais distantes do porto de onde saíste e, agora, aqui estava eu: percorrendo todo o caminho de volta até à nossa margem, onde pensei nunca mais voltar e onde a altura da água é a mesma depois das lágrimas que lá deixei cair ao ver-te ir, passando pelas marcas da minha determinação deixadas na direção contrária nas pedras de calçada. A paisagem parece um pouco diferente agora que o teu barco está no cais: o sol parece mais brilhante, as ruas mais cheias de cor, as margens mais translúcidas.

 

E eu aqui, a esperar por te receber de novo neste teu regresso, rezando para que acredites que teremos a melhor vista mar do mundo inteiro.

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Faz-me sonhar, como sempre.

É estranho como o mundo gira e me leva de volta até ti,
como se quisesse que comparasse o que fomos ao agora
e me quisesse a querer-te comigo aqui ,
como antes, como outrora.

Decididamente, acredito hoje, mais que nunca, que as coisas acontecem por uma razão e, aqui estou eu, pronta para o que vier daí, preparada para todas as coisas estranhas e vislumbres. Porque já vi que (pelo menos) o (meu) mundo é assim.

E tu vens, de rompante,
e vais de repente,
e voltas de fininho,
e desapareces mansinho
e perdes-me no meio de sonhos e sentidos,
memórias e vontades,
medos e verdades.

E eu vou ceder.
Se vieres, eu sei que não resisto.
E se fores, eu sei que eventualmente, de uma forma ou de outra, voltarás.
E se não voltares, saberei antes de tomares essa decisão.

Porque eu já decidi algumas vezes por um ponto final que, no final, virou uma vírgula baça, quase transparente e agora tenho sérias dúvidas se estas reticências serão o encerramento da tua frase.

Se forem, eu sei que um novo parágrafo vai surgir e, sinceramente, estou mais despreocupada que nunca.

Se não forem, por favor, volta com tudo. Volta com todas as palavras que sempre usei para te descrever, com toda a carga que te envolve desde que sou pequena, volta com os meus sonhos no colo e com o meu coração nas tuas mãos.

Ou então, deixa-me ir,
deixa-me perder-me noutro alguém,
deixa-me criar outros sonhos,
deixa-me escrever uma nova história.
Deixa-me escorregar para o futuro,
como se nunca tivesses considerado um comigo.
Deixa-me abraçar um novo mundo,
como se nunca tivesse partilhado o meu contigo.

Ou então vem, vem decidido
vem de vez, vem agora
fica eterna e discretamente,
fica como antes, como outrora.
Toca-me, prende-me, ama-me.
Faz-me sorrir e ficar.
Faz-me poder ver-te,
Faz-me poder ter-te,
Faz-me sonhar,
Como sempre.

FÉ.

Os últimos dias tinham sido estranhos, como se estivesse à espera de algo que não sabia o que era: como é que se pode esperar o que não se sabe que vai chegar?! No entanto, lá estava eu, alienada ao mundo exterior, a tudo o que não parecia novidade, a tudo o que era o mesmo de sempre, a ignorar qualquer coisa que fosse diferente, a repetir a rotina de forma automática, tal robot.

E depois, eis que a meio da rotina o meu inconsciente se sobressalta: de um lado eu, do outro lado algo que podia, perfeitamente, ser teu. Óbvio que isso já fazia parte da rotina: os sobressaltos do meu inconsciente (e do meu coração) a pensar que te tinha posto a vista em cima; o bater acelerado a tentar perceber se eles tinham razão (como se o inconsciente pudesse ser racional no que toca a ti); o olhar nervoso a tentar desvendar vultos e caras, e estilos, e letras e cores; a aceleração da memória visual a tentar desvendar (desvendar a paisagem, a vida, a possibilidade de algo ser teu ou de seres tu).

Mas ali foi diferente.

 

Ali, o meu mundo quase que ficou em pausa para poder confirmar(-te). Ali, a rotina passou em cima de uma ponte, por cima de um rio. Ali, eu saltei mesmo. Eu parei mesmo, enquanto as outras vidas corriam. Ali o meu coração passou de acelerado a tão rápido que parecia parado. Eu parei, qual cena idílica, especada a olhar para uma silhueta que poderia tão bem pertencer-te como eu te queria pertencer. E o resto corria, quase que em velocidade de Fórmula 1. E parecia que só eu... Aliás, só eu e Tu (ou o possível "TU") estávamos parados, especados, a deixar-me estudar aquele enredo em pormenor - e a assumir aquela silhueta com o maior foco que os meus olhos já fizeram.

O problema foi esse: foi o "parecer", foi o ser apenas um "possível tu", foi o  facto de só eu ter ficado especada e o resto do mundo correr - correr muito... CORRER TANTO! Foi, como sempre, ter sobressaltado o meu consciente, acelerado o meu coração, ter saltado, ter olhado nervosamente e ativado a minha memória. Porque ela percebeu que não eras tu e desde o início que isso era óbvio. Óbvio que não podias ser tu desde o início. 

E ali estava eu, especada, a olhar para alguém que não eras tu... A olhar, portanto para ninguém, enquanto o mundo corria e o resto da vida acontecia: enquanto o coração se desapontava, mais uma vez pela falta da tua existência, pela persistência da tua ausência, pela saudade de te ver e te tocar.

Ali estava eu, congelada debaixo de um por do sol primaveril, enquanto o resto sucumbia à rotina de fim de dia e enquanto a minha memória racionalizava mais que todo o meu corpo todo junto, enquanto o meu coração desacelerava com a incerteza do que faria se fosses tu e do que talvez o eu - ou parte de mim - faria.

 

E eu poderia contar toda uma história do que aconteceria se fosses tu.

Contar uma história para cada uma das hipóteses: da hipótese de mesmo assim não me veres e apenas eu estar especada a olhar para onde poderias estar tu, da hipótese de nenhum de nós se ver - se cruzar, se olhar, se sorrir, se tocar, se abraçar... Uma história de todas as hipóteses que poderiam haver.

Até poderia contar a história do que aconteceria se fosses tu, e eu te visse, e tu me visses, e nos olhássemos pelos intervalos entre cada carro, cada vidro. A história de ficarmos os dois, naquela ponte, separados por filas de metal colorido, a estudar o futuro de cada um, qual matemática complicada, ao sabor do vento, iluminados pela luz crepuscular, ao som da minha banda sonora preferida, que tanto me lembra de ti e me gritava, naquele exato momento ao ouvido.

Poderia contar a história daquele reencontro inesperado, ansiado, enervante e já retratado. A história do que aconteceria assim que os meus olhos te avistassem, do que aconteceria no tempo massivo em que não nos tocássemos. Poderia contar a história em como, enquanto passavam inúmeras vidas entre nós, a separarem os nossos toques, eu sabia que os nossos corações se iam falar. A história em como eu sabia que parte de mim e parte de ti já se estariam a entrelaçar, só com a possibilidade estarmos ali a meros metros de distância, se efetivamente fosses tu. A história de como um vulto meu e um vulto teu se tocariam tão antes de nós, dançariam sobre a cidade, ao por do sol. A história de como eles se abraçariam e como eu gostaria de te abraçar também. E é inevitável não imaginar isso quando a possibilidade de te estares a cruzar comigo acontecer. E é inevitável não levitar com esse desejo, é impossível desgostar dele. E eu que queria tanto que fosses tu!

Só que não eras, então talvez essas histórias fiquem para depois.

 

Mas, mesmo depois de me terem roubado tão insensivelmente a possibilidade de te ver e como se o céu, a ponte, o rio, a cidade fossem testemunhas dessa desilusão e desses microssegundos de êxtase, apesar de eu lutar tanto para racionalizar e controlar essa vontade tão selvagem, evitar ter as expectativas tão elevadas e a esperança tão aguçada, tão intensa... eis que o mundo me quis deixar uma nota indiscreta, clara e imperdoável: FÉ.

Depois de desaparecer qualquer hipótese de seres tu ali, depois de ter decido continuar o meu caminho em direção ao dia seguinte, e como se não tivesse havido estranheza suficiente nos últimos dias, e sem eu, nem tu ou ninguém poder perceber se foi o vento, a água, a magia da cidade dos amores, tudo isso ou qualquer outro ícone a favor de ti na minha vida, a mensagem surgiu do nada, como uma bofetada: FÉ. 

E eu tenho a certeza de que se já não fosse maluca o suficiente para acreditar em magia ou para já ter somado todos os sinais que têm surgido à tua volta, naquele momento eu não teria dúvidas: FÉ.

Juntaram-se duas letras diante dos meus olhos, que eu pisquei para ter a certeza de que o que via era real. Era.

E a fé ficou.

Eu, tu e o resto.

E a vida passou de amarga a doce. Ficou tão doce que eu não precisava tanto de doces! A sério: era tão mais fácil saborear a vida em vez de um pedaço de chocolate e era tão melhor saborear um beijo teu, a um doce qualquer! E, na verdade, fazia-me sentir tão mal uma overdose de doces, e faz-me sentir tão bem a tua pessoa!

A noite também passou de fria para quente, desde os teus "boa noite", mesmo se não os dizes. E as manhãs tornam-se bem mais suportáveis quando acordo e há um "bom dia". Aliás, a contagem decrescente para te ver de novo começa desde o momento que me despeço de ti... e os "bom dia" significam que cada vez está mais próximo o plano para me sentir zen: eu, tu... e qualquer sítio onde possa respirar a liberdade que é estar ali contigo. Eu, tu e o rio. Eu, tu e as árvores. Eu, tu e o mar. Eu, tu e o "onde-quer-que-vamos".

E suportar a rotina passou de praticamente impossível para bastante suportável , desde que os fins de semana compensam tão bem todo o stress semanal e rotineiro.

O ar ficou com outro cheiro, e não é só o da Primavera ter chegado... não é só aquele cheiro a dias compridos e quentes. Mas tenho de confessar que é bem mais fácil associar-te à Primavera que ao Inverno, porque tudo fica mais colorido, calmo, divertido, estonteante, leve e fácil de suportar. Na Primavera e contigo. 

 

E eu tenho noção do perigo que representas. Tenho noção que a calma precede a tempestade. Tenho noção do que isto pode representar, a todos os níveis. Tenho plena noção do que implicas e que implicamos... Mas é tão mais fácil querer-te junto do que te deixar lá longe! 

E como tudo o que poderia vir daqui, eu sei que não vai ser fácil. Aliás, eu tenho plena noção que poderá ser bem mais complicado do que fácil... Mas aqui estou eu de novo, pondo-me à mercê do difícil, prometendo tentar facilitar-nos o máximo possível, até onde for possível.

A mim, a ti e aos nossos planos. A mim, a ti e às nossas vontades. A mim, a ti e aos nossos momentos. A mim, a ti e às nossas conversas. A mim, a ti e ao nosso silêncio. A mim, a ti e à nossa calma.

Bom dia.

A luz começou a entrar aos poucos por entre as frestas de uma persiana mal fechada como se o dia quisesse acordar aquelas paredes, mas as acordasse calma e serenamente da mesma forma que o mar beija a areia da praia em dias de maré vaza sem corrente. À medida que o quarto amanheceu, também eu fui despertando. O meu corpo continuava mole do dia anterior, sem se querer convencer de que a noite tinha efetivamente terminado.

Tentei forçar o meu cérebro a compactuar com as pálpebras cerradas: "só mais um pouco, só mais uns minutinhos, por favor". O meu inconsciente queria acordar e o meu consciente estava a perder aquela batalha. O corpo foi despertando também, apesar dos olhos fechados. O cérebro não conseguia ficar quieto muito mais tempo... só o corpo fazia força para se manter adormecido. Estremeci. 

Estremeci quando o meu cérebro me lembrou de algo mais. Estremeci quando o meu corpo se apercebeu do sítio exato onde se encontrava.

Estremeci com a sensação de calma que me envolveu. Estremeci e dei meia volta, ficando de frente a frente para aquele vulto. Aquele corpo ainda preso no sono desenhava-se à minha frente como um escudo protetor. Por segundos, inconscientemente, pensei ainda estar a dormir e pisquei os olhos numa tentativa de acordar de um possível sono (e sonho). Mais acordada era impossível.

Estremeci por ser real. Estremeci por estar ali. Estremeci pela certeza tão absoluta de não haver lugar mais certo onde eu pudesse estar. Estremeci pela felicidade de ser um sonho da vida real. Estava feliz naquele local (o local que não era o quarto).

Incrível como um espaço tão apertado pode fazer alguém sentir-se tão livre, tão solta. É incrível como aquele local me fazia sentir tão inocente, tão pequenina, tão frágil... e tão forte, tão segura, tão feliz. 

Não quis mais dormir ou ter sono. Quis estar desperta para sempre, para não desperdiçar nem mais um momento naquele sítio tão ideal, tão acordada que sentisse aquele estremecer para sempre, de sensação tão boa que era. Não quis mais sair dali: se eu decidisse o tempo pararia naquele exato momento, sem quês ou porquês e eu vivia ali, naquele abraço, naquele regaço, junto àquele peito protetor, como se ele fosse um portal para aquele corpo (e, para mim, de certa forma, até era ).

 

Se eu decidisse o tempo pararia naquele exato momento, sem absolutamente mais nenhum quê ou porquê. E eu viveria ali para sempre, no teu abraço, no teu regaço, colada  ao teu peito, como se fosse um portal até  ao teu corpo. E para mim, de certa forma, era: a minha alma levitava com o teu bater de coração

 

Sentir ali, pele com pele, com a tua respiração serena na minha nuca, a sentir cada batimento cardíaco, cada toque e cada movimento. Ajeitei-me em ti, como se ainda não estivesse perto o suficiente. E depois, quando me apercebi que era ali que ia estar para sempre e que naquele lugar nada de mal podia chegar, senti aquele friozinho de sempre, que todas as manhãs me deixava feliz: a pontinha do teu nariz frio de quem acabou de acordar num quarto rodeado de inverno tocou, finalmente, a minha testa e os teus lábios húmidos encostaram no meu nariz. "Bom dia".

 

Sim, agora ia ser, definitivamente, um bom dia. E eu suspirei de alívio: o dia tinha-me acordado para ti.

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