Um dia desapareceste entre espuma branca e ondas altas, em direção a Sabe-se-lá-onde. Nesse momento, pensei-te navegante de outros mares para sempre, pensei-te explorador de outras costas, entusiasta de outras encostas, longe de qualquer vista mar.
Mas depois tu decidiste um regresso e aportaste no meu cais, de novo, quando te pensava entre ondas e marés. Aportaste no meu cais, talvez perdido de tormentosas tempestades, talvez oriundo de terras distantes, talvez, quem sabe, das profundezas do oceano, talvez indisposto da viagem, talvez sem saber onde o destino te traria.
Horas, dias, meses: o tempo que passara era-te desconhecido (na verdade, até para mim) e eu olhava para ti como se olhasse para o meu horizonte, sem saber como te acalmar deste teu fado impetuoso (se saber como me acalmar desta incerteza imprevisível), sem saber como esclarecer as dúvidas que terias, sem saber como te ler esse olhar impenetrável que diz o contrário do que os teus lábios pronunciam. A verdade é que, quando partiste, julguei-te perdido para sempre, julguei-me desprendida de ti, julguei solução as ruas mais distantes do porto de onde saíste e, agora, aqui estava eu: percorrendo todo o caminho de volta até à nossa margem, onde pensei nunca mais voltar e onde a altura da água é a mesma depois das lágrimas que lá deixei cair ao ver-te ir, passando pelas marcas da minha determinação deixadas na direção contrária nas pedras de calçada. A paisagem parece um pouco diferente agora que o teu barco está no cais: o sol parece mais brilhante, as ruas mais cheias de cor, as margens mais translúcidas.
E eu aqui, a esperar por te receber de novo neste teu regresso, rezando para que acredites que teremos a melhor vista mar do mundo inteiro.
Não sei se sempre tinhas estado por ali e eu andava cega ou se naquele pedacinho do meu dia decidiste estar ali exatamente no momento em que tropecei em ti. Mas a verdade é que te descobri.
Ou tu me descobriste a mim.
Ou nos descobrimos...
E descobri esses teus olhos sorridentes e brilhantes que me abraçaram quando os nossos olhares se cruzaram. E que abraço bom e aconchegante que esses teus olhos me deram! Foi como se se tratasse de alguém que se adora e que não abraçavam há muito tempo! Se eles tão pouco soubessem que foi a primeira vez que os meus olhos te agarraram...
E quando te alcancei, descobri esse teu sorriso lindo, que me fez apaixonar de caras. Nesse momento parou todo o resto. Não fazes ideia do quanto és bonito quando sorris, com as ruguinhas junto aos teus olhos infinito e o sorriso tão bem desenhado. Foi como se nunca tivesse visto ninguém sorrir... e nesse momento descobri que o meu beijo queria muito morar para sempre nesse teu sorriso. Na verdade, acho que toda eu queria morar nesses teus lábios.
E foi quando a minha mão tocou na tua, apenas naquele pequeno momento, que eu senti que seria dali que eu sempre quereria sentir um toque. Que seria aquela mão que sempre me iria segurar. Foi nessa fração de segundo que eu soube que nunca me irias deixar cair, que aquela mão estaria ali para me apoiar, sossegar e agarrar. Que aquela mão não me ia deixar ir. E eu queria que me agarrasses e me mantivesses segura em ti.
E foi só um toque, mas os nossos braços encontraram-se como tudo em nós. E se tu soubesses como eu gostei desse toque ou se ao menos houvesse palavras suficientes para descrever o caseiro que ele me pareceu! Nesse momento eu soube que aqueles braços eram a minha casa e porto de abrigo. Foi aquando esse toque que eu soube que seria nesse teu abraço que eu seria feliz e que me sentiria em casa.
E foi só uma vez, mas quem me dera tropeçar mais em ti! Queria tropeçar para sempre em ti! Quantas vezes as necessárias para sentires em mim a paz que eu sinto em ti.
O teu olhar é o meu mapa de orientação; o teu sorriso é, definitivamente, a morada do meu beijo; a tua mão é o meu apoio e o teu abraço a minha casa. O teu colo é o meu porto de abrigo. E tu estás lá sempre: a acalmar-me, embalar-me e fazer-me sorrir. Não importa onde, mas contigo sinto-me em casa. Não importa quando, desde que estejas o tempo não existe. Onde quer que haja um "nós", podes ter a certeza, que é o meu paraíso.
De resto não sei: não sei de onde vieste, porque vieste, se vieste para ficar ou só para me abalar mais um pouco. Mas quero que fiques, quero ter o teu abraço para sempre. Quero que me refaças todos os dias, que me faças levantar a cabeça. Sei, definitivamente, que fui naquele dia exatamente na tua direção. Não sei se me encontraste ou se fui ao teu encontro, mas sei que apesar de até aí andar perdida, encontrei em ti a minha bússola. E se fores embora, não sei o que fazer desta vida sem ti. Sei que desde esse dia não larguei mais a tua mão e caminho sempre para ti, contigo: porque a razão de tudo fazer tanto sentido agora és tu. A razão da minha direção ser tão clara és tu: porque eu andava sem voz, sem rumo e tropecei em ti. Tenha sido acaso ou destino, tu fazes-me sentido e eu até poderia acostumar-me a outra vida sem ti... talvez fosse fácil. A questão é só uma, assim como a minha certeza: eu não quero.