De mim, euforia
de 2018.
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de 2018.
Um dia desapareceste entre espuma branca e ondas altas, em direção a Sabe-se-lá-onde. Nesse momento, pensei-te navegante de outros mares para sempre, pensei-te explorador de outras costas, entusiasta de outras encostas, longe de qualquer vista mar.
Mas depois tu decidiste um regresso e aportaste no meu cais, de novo, quando te pensava entre ondas e marés. Aportaste no meu cais, talvez perdido de tormentosas tempestades, talvez oriundo de terras distantes, talvez, quem sabe, das profundezas do oceano, talvez indisposto da viagem, talvez sem saber onde o destino te traria.
Horas, dias, meses: o tempo que passara era-te desconhecido (na verdade, até para mim) e eu olhava para ti como se olhasse para o meu horizonte, sem saber como te acalmar deste teu fado impetuoso (se saber como me acalmar desta incerteza imprevisível), sem saber como esclarecer as dúvidas que terias, sem saber como te ler esse olhar impenetrável que diz o contrário do que os teus lábios pronunciam. A verdade é que, quando partiste, julguei-te perdido para sempre, julguei-me desprendida de ti, julguei solução as ruas mais distantes do porto de onde saíste e, agora, aqui estava eu: percorrendo todo o caminho de volta até à nossa margem, onde pensei nunca mais voltar e onde a altura da água é a mesma depois das lágrimas que lá deixei cair ao ver-te ir, passando pelas marcas da minha determinação deixadas na direção contrária nas pedras de calçada. A paisagem parece um pouco diferente agora que o teu barco está no cais: o sol parece mais brilhante, as ruas mais cheias de cor, as margens mais translúcidas.
E eu aqui, a esperar por te receber de novo neste teu regresso, rezando para que acredites que teremos a melhor vista mar do mundo inteiro.
"Então até amanhã, no sítio do costume" - disse eu para dentro, depois de o meu coração entrar em choque ao aperceber-se de mais uma chance perdida de te pertencer, ao aperceber-se que desperdicei mais um dia da minha vida contigo...
"O sítio do costume"! O frio dos amanheceres e anoiteceres de inverno, as voltas e passeatas rotineiras, as paredes despidas, a calçada portuguesa, a nossa rua, tu, eu. A nossa falta de sentido de oportunidade (ou falta de agarrar as oportunidades que temos). E eu começo a achar que temos a mesma medida de vontade que temos de falta de coragem.
Sim, porque eu dou voltas para me cruzar contigo, e tu dás voltas para me ver. E depois vemo-nos, efetivamente. Vemo-nos, cruzamo-nos, olhamo-nos, sorrimo-nos e continuamos a nossa vida, como se não déssemos um ao outro a importância que efetivamente damos. E eu fico com um sorriso tonto quando finalmente te (re)encontro e penso no que as pedras da calçada diriam se falassem.
Começámos esta troca de olhares envergonhada, começámos os sorrisos mútuos, começámos os cruzamentos inúteis. E as vezes que já esperei por ti, sem te esperar! É ridículo, não é? Querer falar-te e não conseguir? Tentar adivinhar por onde andas quando te podia, simplesmente, acompanhar? É rídiculo, não é? Não te esperar? Esperar-te depois de me afastar uma distância considerável de ti? Esperar-te só porque é mais fácil ver-te a aproximar que me aproximar? Esperar-te depois de ter ignorado totalmente essa chance cada vez que o meu corpo passa a poucos milímetros do teu, quando por uma questão de poucos átomos não nos tocámos... E o coração acelera: é um misto de adrenalina, vontade e desilusão por me querer mexer consciente e saber que o meu inconsciente não vai querer dar o passo em frente. E se aquelas paredes dissessem o que vêem...
"MERDA para os mecanismos involuntários do nosso cérebro!", digo eu que tanto queria contorná-los. E se calhar isto é inútil mesmo, e somos apenas duas pessoas por aí. Se calhar és apenas um sinal de que a vida corre e a rotina está dentro dos conformes e eu dentro dos horários. Se calhar tudo não passa de uma rasteira do destino. Se calhar tu és só tu e eu sou só eu, e cada um de nós só foi feito para andar na mesma rua... E um "bom dia" era tão fácil de dizer.
Gostava de poder adivinhar-te. Gostava de poder encontrar-te, sem receio de ficar sem ti. Gostava de perceber os nossos encontros e desencontros. Gostava que a nossa rua falasse.
Querem-me proibir de falar de amor: dizem que não sei o suficiente ou que sei de mais, dizem que sonho alto, dizem que a vida não é uma estória de encantar, dizem que não é um mundo cor de rosa.
E então, como se os sentimentos tivessem idade ou uma data de validade, dizem que não posso falar de amor. Como se não se pudesse sonhar só porque nem sempre as coisas correm como queremos. Como se o amor fosse uma coisa linear, uma coisa específica, querem fazer-me acreditar que não existe.
Estes descrentes, ateus de romance e qualquer outra coisa que faça lembrar o amor. E depois dizem que não sei falar de amor. Dizem que não se fala do que não se sabe, e como consideram demasiado a sério a hipótese de eu não saber o que é amor, dizem que não posso falar dele.
Mas eu não os ouço. Não os ouço e falo de amor. Porque gosto falar de amor e é a única coisa que acredito sem sombra de dúvida.
Sonho alto e falo de amor, e de todos os sonhos que tenho com ele. E dos castelos no ar que me faz criar, das estórias encantadas que imagino e me encantam. Falo de como muda o meu mundo, de como cria a minha bolha e um filtro especial.
Vivo num mundo cor de rosa, com uma pitada de realidade. Porque o mundo real é tão hipócrita, que o maior disparate do mundo, seria viver no mundo real com uma pitada de cor de rosa. Não preciso de me alienar ao que vem do mundo real, mas posso por um filtro cor de rosa, e tentar ignorar o máximo possível o que quer escurecer esse mundo. De qualquer maneira, poucos devem ser os que acham um rosa-escurecido bonito.
Não sei se vou estar sempre assim ... e até talvez, lá no fundo, examine a minha existência e saiba que tenho vários motivos que me pudessem fazer duvidar dele. Talvez às vezes, por pensar mais com a cabeça e por o coração de lado, tente desconfiar do amor, tente não acreditar na sua existência. Mas depois vêm os sonhos. Vêm as vontade e desejos, vêm os olhares apaixonados, os sorrisos perdidos de amor, os nervosos miudinhos. Vêm os dias que correm mal, quando se está mal de amores ... Ou mal com quem amamos. E vêm os dias de sol, os dias de magia, os dias de quase-explosão e de espalha-felicidade quando tudo se resolve.
Porque o amor é mais que paixão. O amor existe de todas as formas na nossa vida. E depois sabemos que ele existe, se abrirmos os olhos a isso: ao apaixonar, ao acreditar e desconfiar, ao abraçar e sorrir, ao discutir, ao proteger e querer saber. Porque o amor é o pior sentimento do mundo, tal é a intensidade que dói e nos faz sentir impotentes.
É por isso que acredito tanto: porque sentimos tudo. Sentimos as idas e as vindas, a felicidade e a mágoa, a energia e a derrota.
O amor não é hipócrita e mostra o lado mau do mundo (do coração, da cabeça, do corpo e da alma). E nós podemos fechar-nos ao amor, mas o amor continua lá, a existir, nós é que fechamos a porta (e esquecemo-nos de abrir a janela): é a velha história de "se partes do pressuposto que não acreditas em algo, já estás automaticamente a por a hipótese de que exista".
Mas vou falar de amor.
Vou falar de amor sempre que me apetecer. Do meu e dos outros. Do amor próprio e do amor por quem me rodeia. Da paixão e não só.
Vou sempre falar de amor e ser apaixonada pelo amor. E viver no meu mundo cor de rosa, sonhar com tudo o que tenho direito e com tudo o que as estórias de encantar me deixaram a acreditar.
E vou viver o amor em modo repeat, como se fosse a primeira vez. E talvez alguma vez, seja efetivamente a primeira. E talvez eu nem perceba... E talvez eu até já saiba qual é.
Dizem que todos temos um propósito. E eu não sabia qual era o meu, até começar a fazer aquele percurso diariamente. Todos os dias pisava o mesmo chão. Havia pessoas que via todos os dias, algumas pessoas repetiam o mesmo percurso que eu dia após dias, após dia. E depois havias tu. Era frequente ver-te. Passar por ti, tu passares por mim, passarmos um pelo o outro.
Não sabias quem eu era. Cruzavamo-nos como milhões de pessoas em modo robô se cruzam todas as manhãs, em todo o mundo.
E eu também não tinha ideia de quem eras, mas acho que, com o tempo, acabei por saber mais de ti do que tu de mim.
Olhavamo-nos em silêncio todos os dias. Não sei se me vias, não sei se me observavas como eu a ti, não sei se ficavas a olhar quando passava por ti. Não sei se pensavas em mim, se falavas sobre esta miúda que vias menos de um minuto por dia. Nem se quer sei se pensavas nesse cruzamento, como eu. Nunca falavamos. Nunca falámos.
Aquele cruzamento tornou-se rotineiro. Aquele cruzamento de corpos tornou-se frequente. Aquele cruzamento de olhares tornou-se quase um desejo matinal. Aquele cruzamento de sorrisos tornou-se no auge do dia dela. Aquele vulto começou a ganhar forma, a ganhar cor. Até que as mãos se cruzaram também. Depois ganhou cheiro, ganhou som, ganhou textura, ganhou sabor.
Havia fogo naqueles olhos.
Ela estava completamente apaixonada, ela acreditava em tudo. Ela olhava o mundo com um olhar cheio de esperança, cheio de cor. Ela abraçava os sonhos como se fossem sempre uma possibilidade: se viver um sentimento daqueles era possível, qualquer coisa seria possível dali para a frente.
Ele era todo o romance que ela alguma vez tinha pedido, toda a história de encantar.
Ele foi todo o seu mundo.
Hoje sonhei contigo.
Aliás, sonho todas as noites. Umas vezes sonho a dormir, outra vezes sonho acordada e outras vezes vivo o sonho: o sonho de te ter, o sonho de me encaixar tão perfeitamente nos teus braços e em ti, o sonho de acordar o teu sorriso e de despertar o meu. Mas hoje sonhei contigo.
Estavamos numa sala a meia luz. Nenhum de nós se via completamente lá, apenas vultos por de trás das cortinas de tule em tons pastel... acho que estávamos em lados opostos. De repente, começa a tocar aquele clássico que eu adoro do Dirty Dancing , como se fosse preciso uma música para me dizer que os meus melhores momentos da vida são nos teus braços.
Engraçado. Acho que depois de tanto tempo, nunca te tinha visto, se quer, gingar o passo e ali estavas tu, tal Patrick Swayne, de cabelo desgrenhado, mas no sítio certo e camisa branca desapertada no decote e a abanares-te ao som de Time of my Life. Ao menos, ali, tive a certeza que também tu sentias aquilo que era dito na música. Acho que acertámos os passos... Não tenho a certeza porque o meu eu no sonho estava concentrado no teu rosto: no sorrito maroto e sincero, nos lábios que o soltavam tão deliciosamente e no olhar atrevido mas apaixonado. Não sei se não pareceríamos dois bobos a dançar por ninguém, numa sala de tule pastel a meia luz. Não sei se não pareceríamos espelho um do outro, de tão embrenhada que estava no teu rosto: aposto que a minha expressão seria a mesma.
Lembro-me que dançámos. Dançámos muito como se sempre tivéssemos feito aquilo. Dançámos tão intensamente que acho que teríamos envergonhado qualquer par de bailarinos campeões. Dançámos como se a nossa vida dependesse disso. E como eu gostei de dançar contigo!
Não sei porquê... Não me perguntes porque sonhei com tal cena épica, de um catálogo de romantismo. Não me perguntes porque dançámos. Não me perguntes porquê aquele enredo todo... Toda aquela perfeição.
Dançámos. Rodopiámos. Chegou a parte da música em que a Baby é pegada ao colo. E tu, tal Johnny Castle, pegaste em mim, como se tivéssemos ensaiado aquela cena um milhão de vezes! Não houve falha de um passo, de um tempo, de um gesto... E beijaste-me, comigo lá no ar.
Não sei se no mundo dos sonhos já alguma vez me terias beijado, porque senti todo o tipo de arrepios de quando há um primeiro beijo. Mas ali ficámos, depois do beijo, depois de me baixares, depois de a música terminar. Perdemo-nos nos olhos um do outro. Perdemo-nos nos lábios um do outro. Perdemo-nos um no outro e encontrámo-nos um para o outro.
Roubaste-me um segundo beijo. Eu percebi que não adiantaria o número de vezes que me beijarias dali para frente e que provavelmente, mesmo em sonhos, não fazia diferença se aquele seria o primeiro, o décimo ou o milésimo beijo: a sensação de pertencer ali, de pertencer a ti e todos aqueles arrepios ia acontecer sempre.
E depois percebi: talvez o sonho tenha sido a melhor analogia perfeita para nós... Que outra forma demonstrar toda a nossa sintonia e musicalidade se não dançando de forma tão perfeita, ao som de um dos mais românticos clássicos do cinema? Talvez fossemos mesmo o espelho um do outro.
E agora, acordei. E enquanto esfrego os olhos e me apercebo daquele sonho tão incrivelmente natural, olho para ti aqui adormecido, com o mesmo sorriso bobo. Aposto que se tivesses os olhos abertos, seriamos um inevitável espelho um do outro.
Ignoro o sol a espreitar lá fora, depois de uma semana enevoada e enrolo-me em ti. Mais uma vez, solto um suspiro profundo, confirmando o quanto pertenço a este lugar. E dançamos de novo, de olhos fechados e com os teus braços à minha volta. E eu que acordei de um sonho contigo, volto a sonhar, conscientemente e de peito a saltar.
É fácil gostar de ti.
É fácil gostar do brilho que me trazes, da energia que me dás, dos sorrisos aparvalhados que faço por ti, mesmo sem motivo. É fácil gostar de cada traço teu. Gosto de ti sem esforço e sem necessidade de saber porquê. Às vezes não gosto de gostar de ti: não gosto que me deixes ansiosa porque demoras, não gosto de ficar nervosa porque não falas, não gosto de me sentir insegura porque não estás. Às vezes seria bem mais fácil se não gostasse de ti... mas é tão mais fácil gostar de ti e do teu toque e do teu beijo. Gostar das conversas que temos, das conversas que não precisamos de ter e das conversas que deixamos para depois dos nossos momentos. Gostar do teu abraço apertado e da forma como me envolves, quando me sinto a coisa mais frágil e mais segura do mundo, porque nada pode acontecer ali dentro. É tão mais fácil gostar de olhar para ti, mesmo quando não estás a ver... (principalmente quando não estás a ver). E eu gostava de me controlar mais no que te diz respeito, mas é tão difícil deixar de ser de ti e de me sentir de ti.
Dizem que o que fica entre as palavras, como gestos e expressões é o que mais importa e eu olho-te sem tu veres, a tentar decifrar isso. Não é fácil decifrar-te. E gostar de ti é tão mais importante que me perco. Só te olho. Só gosto. Só me perco em ti. Às vezes olho-te sem pensar em nada. Às vezes olho-te e penso em todo um mundo de coisas. Às vezes olho-te e perco-me. E enrolo-me em ti, porque lá fora não há mais nada enquanto estiver assim.
E quando te vais embora, era tão mais fácil não gostar de ti! Porque o corpo amolece. O corpo arrefece. O mundo arrefece. O mundo acontece... começa a acontecer. E eu não gosto que o mundo aconteça assim. Não gosto do mundo sem ti. É tão fácil não gostar do mundo. E é tão fácil gostar de ti no meu mundo. E eu noto que não tens noção de quanto é fácil gostar de ti.
E eu gostava das tuas palavras, de como parecia que sabias sempre o que dizer. E eu acredito nas tuas palavras, como se fossem a única coisa real no mundo. Às vezes preferia não gostar das tuas palavras, porque não as percebo. Mas as tuas palavras parecem tão certas quando as dizes. Às vezes preferia não acreditar nas tuas palavras, às vezes acho errado acreditar nas tuas palavras... Mas as palavras são tuas e é tão fácil gostar de ti: como não gostar delas também?
Se me perguntas o que eu gosto para estar contigo, eu não sei o que responder. Às vezes acho errado gostar de ti, mas depois descubro mais alguma coisa que gosto em ti. É difícil saber o que me prende a ti... até porque eu odeio tanta coisa em ti: odeio a tua ausência, odeio o teu silêncio, odeio não te perceber, odeio que não me deixes perceber-te mais. Odeio ver-te ir, odeio não poder fazer-te ficar e odeio deixar-te ir. Odeio a ansiedade, o nervoso, a insegurança. Odeio o medo de estragar tudo ou de deixar tudo ir.
Odeio que seja tão fácil gostar de ti... Mas eu gosto tanto de gostar de ti!
E gosto ainda mais que digas que gostas de mim.
Se havia altura em que queria estar acordada era neste momento.
Nunca quis tanto estar acordada, estar desperta para um mundo que encarava de tal forma em modo robô que acabava por ignorar tudo o que sentia, tudo o que surgia de novo e pudesse despertar de novo. Dormir era demasiado doloroso... quer dizer, nem há certezas que se pode chamar-se “dormir”, visto que parecia estar com os sentidos mais despertos do que quando tinha os olhos abertos. Era incrível como o inconsciente conseguia ter todo este poder infalível para manter desperto uns sentidos que durante o dia pareciam adormecidos ou dormentes. A verdade é que ela precisava de dormir… há dias que as insónias a atormentavam como se o inconsciente precisasse mais de estar acordado e viver do que ela própria, conscientemente, vivia durante o dia.
Não adiantava o esforço de se deitar cedo: os olhos poderiam estar fechados, mas ela via como nunca. E se tentasse aguentar acordada, para não ter de reviver tudo aquilo mais uma vez e outra vez e outra vez … e outra vez, eram tentativas em vão. Um falso cansaço atacava furtivamente, deixando-a com os seus pensamentos involuntários a que um dia poderia ter correspondido a palavra “sonho”. E ela, conscientemente ou inconsciente, deixava-se sonhar. Deixava-se vencer pelo cansaço de não conseguir combater aquilo. Porque é que custava tanto deixá-lo ir? Passado tanto tempo, como poderia ainda estar tão presente?! Passado tanto tempo como poderia mantê-la tão acordada durante a noite e tão adormecida durante o dia!? Como poderia ela sentir mais durante o sono que durante o resto da vida? Como era possível sentir tanta coisa ao mesmo tempo e ignorar o que o resto do mundo tinha para oferecer?!
Ela queria desesperadamente deixar-se levar pelo mundo, aceitar de braços abertos a alegria de todos os dias, os pequenos sorrisos de rua, os pequenos pormenores sobrenaturais da natureza, queria estar disposta a todo aquele mundo lá fora, tão perto dela… e ao mesmo tempo tão longe! E neste momento, voltar a acordar para o mundo parecia tão impossível, tão improvável de voltar a acontecer, tão longe de alcance… e ela dava mais uma volta na cama, como se abafar o lado esquerdo conseguisse abafar mais alguma coisa não tão física… Ela sabia que não. Ela tinha plena consciência de que nada do que fizesse agora ia resultar. E virava-se, revirava-se, voltava-se e voltava a voltar-se e a virar-se às voltas. Em vão. Em vão porque a única coisa que podia parar aquilo continuava feito barata tonta, às voltas, num vazio… e deixando-lhe, também a ela um vazio. E depois de tanto tempo… depois de tanta magia, depois de tanta vida, tanta revolta, tanta confusão, tanta mágoa, tanta luta, tudo o que ela tinha era aquele vazio tão cheio de tudo e que a fazia sentir sem nada. Ela não sabia de nada. Ela não saboreava nada. Ela não sentia nada. Ela era nada e ela… Ela… Ela desta vez conseguiu o que mais ansiava.
Acordou.
Finalmente, o momento mais esperado daquele sonho: o fim.
(...)
Prometo-te tudo de mim:
prometo-te o meu toque, prometo-te o meu abraço, prometo-te o meu olhar derretido, prometo-te o meu sorriso babado, os meus ouvidos atentos, as minhas pernas bambas, as minhas mãos desertas por te terem.
Prometo-te as minhas palavras mais sinceras, os meus gestos mais apaixonados, os meus desejos mais profundos e os meus sonhos mais bonitos. Prometo fazer tudo o que estiver ao meu alcance para teres a teu lado a melhor pessoa, a melhor menina, a melhor mulher e a tua melhor amiga. Prometo desafiar-te, prometo ser curiosa, prometo animar-te, prometo ser conselheira, prometo guiar-te quando te sentires perdido, prometo encontrar-te sempre, prometo ouvir-te e abraçar-te quando não quiseres falar, prometo acordar-te quando tiveres pesadelos e realizar os teus sonhos. Prometo estar sempre presente. Prometo desejar-te. Prometo tratar de ti. Prometo engordar-te e fazer-te correr.
Prometo-te os teus melhores dias e o ressaltar o melhor de ti. Prometo-te as tuas piores palavras e vir ao de cima o pior de ti. Prometo-te o melhor sono da tua vida e prometo (tentar) tirar-te o sono. Prometo-te os altos e baixos do costume.
Prometo-te ser eu. Prometo-te o pior e o melhor de mim. Prometo surpreender-te. Prometo desiludir-te. Prometo orgulhar-te. Prometo, definitivamente, tirar-te do sério. Prometo controlar-me e prometo descontrolar-me. Prometo descontrolar-te. Prometo-te todo o meu mau feitio e os meus defeitos, prometo que vou falhar e prometo desapontar-te. Prometo pedir-te desculpa. Prometo-te não ser perfeita. Prometo-te os meus melhores e piores momentos. Prometo-te todos os meus sentimentos, prometo-te todas as minhas vontades, prometo-te todo o meu caráter, prometo-te cada pensamento, prometo-te todos os meus valores, todos os meus olhares apaixonados, toda a minha força, todos os meus quereres, todo o meu espaço. Prometo-te todo o meu corpo e toda a minha alma, toda a minha aura. Todo o meu ser.
Prometo querer-te por inteiro.
Prometo querer-te por perto.
Por favor, fica por perto. E eu prometo estar aqui para ti, se tu estiveres sempre aqui, completo, só para mim. Prometo sentir a tua falta cada segundo longe de ti e correr sempre para ti (e contigo). Prometo segredar-te que fico contigo, para ti e para nós... Prometo-te tudo isto e mais ainda, bastando-me prometeres a ti.
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