Deixemo-nos de cenas : a vida e o mundo de hoje em dia são - inevitavelmente - stressantes. Nós sobrevivemos, claro: cada vez desenvolvemos mais e melhores ferramentas para cuidarmos de nós próprios, para aproveitarmos ao máximo a nossa própria companhia, para cultivar o amor próprio (que palavra cliché, não é? parece que agora pegou moda, mas nem nunca devia ter saído de circulação), para sabermos namorarmo-nos e gostar de nós porque "se não gostarmos de nós quem gostará"? Mas ninguém sobrevive completamente sozinho. Precisamos de ninhos para aterrarmos (nem que seja de vez em quando), marinas-colo para desembarcarmos em bom porto, pessoas-abrigo, abraços-casa. Esqueçam a paixão - diz-vos uma romântica incurável, uma apaixonada assumida. Aprendam que para além de o amor poder ter várias formas, nem sempre começa com pernas bambas e corações acelerados, nem sempre nos apaixonamos, nem sempre derretemos. Há amores que começam devagar, há amores que são apenas amizade e amores que começam em amizade, há amores sem paixão - dos amores românticos ou não - e há os amores loucos de paixão. Aceitem pessoas em ponto-lagarta, e tragam cores à vossa vida . As pessoas - e as relações - sofrem metamorfoses e nós devíamos encher a nossa vida de borboletas! Semear palavras, plantar gestos e viver num jardim - num jardim que, obviamente, temos de cuidar para se manter bonito. Sejam a paz de alguém, e cultivem (cativem, cuidem) quem vos traz paz. Tenham quem vos sossegue, quem vos traga boas energias, quem vos faça vibrar, quem vos anima e faz (sor)rir. Tenham quem vos é calma, porque no fim do dia - no fim da (rotina da) vida e nos "fins dos mundos" todos por que o nosso mundo passa - quem nos ama é quem nos embala, quem nos acolhe e cuida, quem nos é - e traz - paz. (E, se não trouxer paz, deixem ir.)
Deixaste-me ir. Talvez achasses que eu ficava e que esperava. Talvez achasses que sempre estaria ali na mesma, que te abriria a porta quando quisesses chegar.
E até chegarias sem aviso. E eu estendia a tal passadeira, que que te levava a uma porta escancarada. E, se eu já estava bem, com pontaria, chegarias quando eu estivesse a viver no meu melhor. E eu confesso que quis muito fazê-lo. Confesso que durante demasiado tempo, mantive tudo a postos para um regresso mais que sonhado. Mas eu sempre ouvi que quem não está connosco lá em baixo, não nos merece cá em cima. E sempre me disseram que virias. E quando o diziam, eu acreditava. Acreditei - e desejei! Ai se o desejei! Quis muito! Quis tanto!
E confesso que esperei.
Aliás, rezei que estivessem certos, e esperei. E rezei para que não demorasses, e esperei. E vi a minha vida seguir sem ti, e quase (quase mesmo), que desesperei. Mas depois fui deixando de esperar, deixei de saber se o desejava assim tanto, deixei de rezar por um regresso que cada vez mais se atrasava, deixei os sonhos esmorecerem, deixei de ouvir quando diziam que virias. Deixei de acreditar. E se já estava bem antes de ti, comecei a acreditar que a tua partida foi mais um pequeno embalo na subida. Assumi o erro a mim própria - não o ter-te encontrado, te ter deixado entrar e ter encaixado tão bem em ti. Mas o de te ter esperado tanto. Pedi-me desculpa por ter acreditado que virias - tu já tinhas ido, e eu errei comigo própria em não deixar tudo o que era teu ir também! Mudei a frase feita para " o que não nos subtrai, acrescenta".
Caramba! Como eu demorei a assumir a tua ausência! Como demorei a aceitar-te como algo bom mesmo depois de ires, como eu demorei a respirar de novo! Mas sabes o que percebi? A minha respiração não tinha ido contigo – eu recuperei o folego que já não tinha desde que te abracei a primeira vez! A sério ! Sabes aquela sensação de que o tempo para quando beijas alguém por quem te apaixonaste? Ou… ou aquela sensação de choque elétrico no primeiro toque a sério, que parece que te tira o chão e te deixa em suspenso? Eu acho que foi aí a última vez que respirei devidamente. Aí, nesse preciso momento. Naquele primeiro momento em que me a tiraste por algo bom. Ires foi , vejo agora, algo bom! E tudo nos entretantos, entre esses dois momentos terá sido uma montanha-russa de emoções e momentos.
E eu até gosto de montanhas-russas, mas é constante ficar de respiração suspensa. E talvez essa frequência não tenha sido saudável. Talvez a tua, minha, nossa volatidade não tenha(m) também sido a coisa mais saudável de sempre. E depois deixei-te ir.
Calma! Eu sei que não precisaste da minha autorização para ir. Pelo contrário, foste de repente, sem olhar para trás, sem permissão, justificação, hesitação ou qualquer tipo de explicação para comigo. Aí, deixaste não só a minha respiração em suspenso, como toda eu fiquei a levitar nas últimas palavras ditas. Toda eu fiquei em suspenso no que poderia ter sido e no que poderia ter feito, e dito e … talvez não fosses. Não logo, pelo menos. Não tão pronto, esperava eu… Porque tu irias na mesma, vejo agora – por outros motivos, por outras vidas ou eventualidades. Aliás, não irias – continuarias! Percebi que fui de passagem. Talvez uma pequena lomba na tua caminhada, uma pequena estação de serviço, um ligeiro apeadeiro. Mas eu só soube da tua viagem quando já não tinha como te agarrar nem a ponta da camisola (e também nunca fui muito boa a correr, não é verdade?). Quando (re)começaste a ir, eu não me apercebi - estava muito distraída com o tão bom que achava que tínhamos! Depois quando já não estavas, eu preferi acreditar num regresso que eventualmente fosse acontecer… E demorou a cair a ficha da inexistência desse momento: a minha vida pode ser uma comédia romântica, mas, ao contrário do que cheguei a pensar, ela começou com a tua saída dela.
Sabes aquele evento que desencadeia o resto do filme? Não foi a tua entrada na minha vida. Tampouco foi toda a nossa história. O evento que despoletou tudo o que podia estar em exibição num cinema perto do mundo, foi a tua saída exímia, a tua audácia de descartares tudo o que era incrível, a tua inocência em descorar o melhor que poderíamos ter tido.
Talvez nunca te tenha passado pela cabeça voltar, afinal de contas. Talvez nem te tenha passado pela cabeça, se quer, olhar para trás! E eu que tanto sonhei com esse momento, agradeço agora ter perdido a esperança que ele viesse a acontecer.
E eu ainda te vejo. Porque o universo quer-nos perto, eu acho. Mas perto e juntos é diferente. Mas perto e unidos não é, definitivamente, o mesmo. Mas já não faz mal. Vejo, sorrio e sigo. E não me importo de ter sido apenas um pequeno contratempo para ti. E espero não te ter atrasado, muito sinceramente.
Do fundo do meu coração - e daqui de cima - espero que estejas mesmo bem.
Deixaste-nos ir. E talvez a tua ideia nunca tenha sido voltar. Talvez a tua ideia tenha sido ir desde o primeiro momento. E tudo bem, eu também já fui e voltei a respirar.
Deixa-me abraçar-te de manhã, como se percebesse que o teu cheiro não é um sonho, ter o teu desenho na minha cama quando te levantas e perceber que o teu tão ambicionado regresso é tão efetivo como a minha existência. Acho que sinto falta da nossa essência e tudo o que ainda não fomos . Deixa-me passar-te os olhos, observar-te de alto a baixo, de baixo a alto, de frente - olhos nos olhos, mãos nas mãos, coração no coração, abraço em abraço.
Deixa-te de coisas: deixa-me comprovar-nos e provar-nos - sem medo dos dissabores, sem medo do agridoce, às vezes tão amargo, sem medo do menos bom, sem medo do que pode correr mal... Somos mel e prometo não deixar estragar. Deixa-me aceitar-te - a ti, aos teus defeitos, aos teus efeitos e manifestos e a tudo o que és tu e me faz tão bem. Deixa-me provar-te que conseguimos ir à lua e viver sem gravidade - flutuando mundo fora, gravitando vida fora, cometendo o erro de cair na rotina, sem virarmos enfado, sendo agudos tão melódicos, tão sinfónicos, tão eufóricos, vivendo o crime tão fácil - e irrisório, nada grave - de sermos felizes.
Deixa-te de coisas. Deixa-me contigo. Deixa-te comigo. Entrega-te a nós e à nossa luta. Não desperdicemos um segundo mais sem nos deixarmos ser.
Deixa-me deixar-nos levar. Leva-nos aos dois, nesse teu bolso estilo infinito, tal fotografia nunca tirada, tal retrato de casal maravilha, tal papel com recado mais que importante, nota delirante, sem qualquer ponta de delírio - que viramos tão reais quanto a nossa existência. Guarda-me no teu sorriso torto, que eu tanto namoro. Deixa-me perder-me no teu peito que tanto me preenche, por dentro, por fora, por sempre, por ora, e de antes em diante. Desperta-me os sentidos. Vivamos estas nossas parábolas (sem imoralidades, porque fazemos tudo bonito) - moral da história, viras epopeia de perdição que insiste em ser narrada. Prosa poética a ser lida, interpretada, como dissertação de química, tese de física, de gastronomia, anatomia, astrologia e astronomia.
Deixa-te de coisas e leva-me ao céu... vemos as estrelas (de perto) - que tu pareces perceber algo disso. Tu já me dás asas, mesmo que não queiras... e, por isso, quem sabe, ensinas-me mesmo a voar.
Esquece isso dos amores calorosos de verão. Esquece esses amores passageiros que vêm e vão e te encharcam de emoções fortes e sentimentos desmedidos, como qualquer onda do mar que testemunhou essa história. Esquece isso das pessoas que se vão com o calor e que têm medo de ficar quando o sol não é tão quente . Esquece esses amores - e nomes - que te dão sede, de tão salgados que são.
Já viveste um amor de inverno?
Um amor que não se assume, nem derrete. Um amor que se mantém frio e calculista durante toda a história dos vossos corações. Um amor que vem devagar e sem se anunciar.
Vem sem aviso, sem premeditação. Pé ante pé. Doce. Ele vem silencioso quando tu pensas que não vai acontecer nada...
É um amor que te chega inesperadamente, e talvez nem o reconheças, assim, tão disfarçado, quieto, e repentino, intenso demais sem nunca o ser em demasia. Na medida certa, na intensidade ideal, vem discreto, quase em segredo até para vocês os dois, que se derretem sem se aperceberem. E os dias que supostamente ficariam mais frios, curtos e, frequentemente, cinzentos, vão aquecendo, vão ficando cheios e imensos, de uma intensidade e vida que só visto (ou vivido, mesmo), vão ganhando uma panóplia de cores que nem sabias que existam. E vocês vivem-nos, sem perceberem, porque, afinal de contas, as folhas continuam a cair e a natureza perde o brilho na mesma, apesar de, na vossa bolha, haver calor, sol e luz no outono... ser pleno verão num absoluto inverno!
Os pores do sol ficam incríveis, ficam mágicos onde quer que os vejas - e parecem tão melhores que os de verão! Embebedas-te de emoção. Absorves energia. Passas a absorver tudo - mesmo sem saber. Porque, a verdade é que, e se os amores de inverno forem tão efémeros quanto os de verão? Apesar de, sem saberes, desejares que aquele momento (tudo aquilo) não acabe, vives tudo intensamente como sendo a última vez. Aliás, respiras e mergulhas em todo este enredo como se fosse a primeira e a última vez em simultâneo, como se tudo aquilo fosse novidade, algo único que pode acabar antes de começar. E tu não queres que acabe... Mas nem sabes disso. Ninguém sabe, ninguém percebe, ninguém vê nada ... nem mesmo vocês que só vão inteirar-se de tudo quando, efetivamente, for o fim. Ou o princípio do fim.
Ou, talvez descubram, com sorte, mais tarde - mas nunca demasiado tarde - que esse que soube a último era apenas o primeiro de muitos - vossos.
Ou, se calhar, toda a gente sabe, toda a gente vê e percebe, menos vocês - porque preferem admitir efemeridade. Preferem os amores de verão que toda a gente conhece, e querem viver um amor de verão ainda que fora de época. Quando, na verdade, têm tudo para viver um amor de Inverno - um amor de ano inteiro... e, talvez sem querer exagerar, um amor de vida inteira.
Crias verão em ti. Criam verão em vós. Criam um verão d'Inverno - dentro e fora de ti, dentro e fora de vós - com palavras que aquecem, com momentos de conforto, com detalhes improvisados que, provavelmente, não vais deixar ir tão facilmente. São coisas que se impregnam em nós, mesmo quando nos recusamos e, normalmente, nem percebemos. São sensações que nem sabias que existiam. São os abraços mais apertados sem que ninguém se toque. Afinal de contas, são estes os Verões que ninguém quer que acabem (e que tantos deixam ir)! São estes os Verões que todos querem e ninguém assume... Nem mesmo tu, que o vives tão imersamente como se estivesses a sobreviver, até então, para um inverno assim.
A verdade, é que cada pedaço de vocês se torna num ponto alto, numa forma intangível, numa descarga de endorfina. Boa disposição, humor - porque, afinal de contas, o verão é uma extravagância de energia positiva e boas sensações. E vocês são verão, juntos - são o arquetipo do Verão na sua plenitude, na sua imensidão.
E vocês estão nesse verão vosso, não é verdade? Nesse verão que começou, quando todos os outros apontavam o fim dessa estação. Nesse verão que durou todas as outras estações. Nesse verão que ninguém queria que acabasse além de vocês, que não sabem o que fazem.
Já viveste um amor de inverno?
Um amor que não se assume, nem derrete. Intenso, impremeditado, silencioso, improvisado, frio e calculista, que vem devagar e sem se anunciar. Doce. Espalha-se na tua vida, ainda que não percebas. E depois, despede-se do nada, acaba sem acabar, vai sem ninguém querer que vá.
Eu sabia que ia mergulhar novamente nesses teus dois pontos chocolate, que iria saborear de novo esse sorriso caramelo que tanta fome me dava, que ainda iria ver o meu corpo no teu a dar um nó - um nó cego, daqueles que custa a desapertar e que nunca ninguém iria ser capaz de explicar.
Eu sabia que todo este esforço iria trazer um bom prémio no final, todo este alvoroço traria o melhor resultado possível, toda esta tempestade traria a maior paz quando passasse. Seria impossível resistirmos, depois de tanto, ao abraço um do outro, aos sussurros e conchinhas, aos cheiros e toques, aos beijos e cuidados. Seria impossível não querermos repetir toda a ligação inegável, toda a paixão que nunca fora pronunciada, toda o fogo que nunca fora controlado, todo o orgulho que sentíamos um pelo outro. Nunca fora segredo, toda a cumplicidade.
Mas agora... agora tudo além estava pronto a ser desvendado, por fim. Nada nos pararia! O mundo começara a girar como nós desenhámos: a passadeira vermelha estava, finalmente, estendida para todos aqueles sentimentos oprimidos e a avenida aprumada para os medos sambarem para fora dali.
Bem vindos, de alma e coração, ao cliché do resto da vossa vida!
Os cientistas deveriam, com certeza, estudar como era possível toda esta química nunca ter dado em explosão. Nunca entrara: sempre a podemos controlar, sempre a soubemos resguardar. Sabíamos como a tratar com o jeitinho certo para ser tão nossa, e só nossa, mesmo que exibicionista.
Dentro do caos da vida e da rotina, dentro do caos da agitação e da ansiedade, dentro do caos de uma anarquia, virámos ponto de encontro. A sorte trouxe-te para mais perto, o destino fez-nos um do outro no momento certo - e eu sabia tão bem o nosso lugar, dentro de todo o caos! O mapa deste tesouro estava muito resolvido: eras centro, eras serenidade, eras ponderação e proximidade.
Nunca fomos urgência, nunca fomos imediato ou promessa. Nunca fomos simulação ou concretude. Éramos segurança e descanso, desejo e amparo. Encontrávamos um no outro um ar mais respirável e uma força que tornava tudo fácil. Encontrámo-nos um no outro, com a tranquilidade de quem sabe que a pressa não traz perfeição: e nós éramos perfeição ideal, dentro de todos esses caos. Nós ficámos um do outro sem deixar de ser de nós, nós ficámos todo um mundo com todo o tempo para se fazer descobrir.
Sabíamos que a vida é curta de mais para ficar a pensar , para perder tempo e, talvez por isso, nos tenhamos encontrado finalmente, depois de tanto nos vermos. Vimo-nos diferente, depois de pousarmos um no outro, depois de nos encontrarmos. Aterramos um no outro, novamente e no nosso nada caos, com todo o caos em volta: eu sabia que voltarias - e eu não precisava de ti, não precisava desse teu jeito ou de toda a paz que me trazias, nem te ia pedir para ficares para sempre, mas esperava que o quisesses tanto quanto eu. Dava tempo para isso - ainda dava tempo para ficarmos um no outro para sempre.
Dentro de todo este caos de estar sem ti, eu sabia que virias. Dentro de todo este caos, que era ter-te sem nos ter, eu sabia que te teria. Dentro de todo este caos de não saber como nos querer, eu sabia que nos queria. Eu sabia que voltarias.
Vais contra o vento, numa velocidade aceitável, mas com uma concentração de quem tem uma meta a alcançar.
Focas o ponto do horizonte e pedalas como se a tua vida dependesse disso, como se não houvesse amanhã. Concentras-te no destino que queres alcançar, remas contra a corrente, corres em contra relógio, com os cabelos a esvoaçarem e deixarem para trás um rápido rasto teu.
Para quem te conhece, não é só o vislumbre do teu cabelo que se atrasa em relação a ti, mas o teu perfume que te lembra a quem pensa que te esqueceu, o aroma que deixas no ar como prova da tua passagem por qualquer ponto de partida, por qualquer pedaço de vida.
É um cheiro infalível, mesmo para a mais fraca memória olfativa - inevitavelmente, fará qualquer pessoa lembrar-se de ti... ou nunca ousar, sequer, esquecer-te!
Ouvir-te será um bónus e só os mais espertos terão coragem de te escutar. Mas se te ouvirem, recordações serão para sempre amaldiçoadas (ou abençoadas) com o tom que te persegue, a ti que poucos percebem, a ti que poucos têm a audácia de conhecer.
E sobre duas rodas, vives essa vida que é tão tua, saboreias o vento, alcanças o horizonte e sentes, contra ti e a teu favor, a fricção da velocidade do ar, a sinergia de um respirar, a rotina de um mundo a girar.
Nem tu sabes o destino que tanto pedalas para tocar, mas quem te conhece cumprimenta a tua vontade e energia quando passas. Não é sorte ou azar brindares portas, portões e lugares com a tua passagem - mas não duvides do quanto isso vai influenciar a vida de quem cruza a tua rota tão decidida, a tua rota tão incerta, tão espontânea e discreta, essa rota tão tua.
Da garupa da tua bicicleta, galopas o mundo, cada canto que tu queiras e que alcanças daí, em todo o seu explendor, em 360º, sem ângulos mortos! Acenas a quem te ilumina o caminho (que que às vezes fica mais escuro, que às vezes perde a cor) e, sem que às vezes saibam, guardas isso com carinho. Tu tens sonhos que levas contigo - às vezes no cestinho, às vezes na mochila, às vezes no coração, mas leva-los sempre, como quem não tem medo de sonhar, medo de mostrar que sonha, medo de mostrar que o sonho comanda o teu pedalar.
Tu pedalas sem destino, com sonho e com esperança, sem saber o que vais encontrar, sem rota ou hora marcada. Mas tu sabes bem onde queres chegar... não sabes?
Fui com a mesma energia com que tinha feito todo o percurso até ali: curiosidade e liberdade; sem espaço para surpresas, mas cheia de vontade de ser surpreendida. E, de repente, ficou um escuro diferente e ficámos em silêncio.
Um silêncio entre nós, mas não entre as nossas mãos. Um silêncio diferente e um frente a frente. Um silêncio de quem sabe o que vai acontecer, e quer fazer acontecer. Um silêncio de quem sabe que é tarde de mais para que não aconteça, mas que não vai haver tempo para o viver devidamente. Um silêncio de quem sabe que o que quer que aconteça, irá, provavelmente, morrer ali.
Eram muitas cores em nós… muitas cores em mim a olhar para ti, e a música tocava mas mais parecia um eco longínquo. Estava apenas a luz suficiente para ver os teus contornos e perceber que me observavas e eu? Eu não sabia mais para onde desviar o olhar. Eu queria ver-te, mas não queria olhar-te.
Aliás, eu até queria… queria muito conseguir olhar-te, mas sabia onde é que isso nos levaria e era mais fácil deixar as coisas correrem sem a pressa que tínhamos de ter, mas que eu tanto gosto de evitar. E, de facto, precisávamos de nos apressar. E, para dizer a verdade, desta vez, eu até queria essa pressa.
“Apressa-te!”, pedi-te sem saberes. Ainda hoje não sabes o quanto supliquei que te despachasses. E tu sabias tanto quanto eu, que tal e qual um certo famoso conto de fadas, abandonaria todo o teu espaço em pouco tempo. Tu sabias, tanto quanto eu, o quanto nos precisávamos de despachar.
Era uma questão de horas, o deixar de te olhar.
E, de repente, apercebi-me para onde olhava. Apercebi-me que, se calhar, não teria sido pior ter conseguido concentrar o meu olhar nos olhos, em vez de me focar no teu sorriso… Porque o teu sorriso tem um poder que não deves conhecer. Ou então, se calhar, até conheces e por isso é que usaste essa arma ali, em tempo de guerra… em tempo de contra-relógio, em tempo de pressa. Por outro lado, obrigada por me sorrires.
Pairava urgência no ar. Havia um tic-tac mental demasiado rápido, uma sensação acelerada, uma separação inevitável, uma batida apressada. Não sei se a batida era da música, do coração, da ansiedade de nos precipitarmos - e de tanto nos querermos precipitar, sem tempo para o fazer.
Confesso que sei muito pouco sobre este momento. Lembro-o como um sonho rápido que pouco decorei ou um filme que não tive tempo de pôr a gravar. Confesso que tenho as minhas dúvidas se aconteceu, de tão volátil que foi, de tão pouco que o guardei - mas, definitivamente, é quase como se não tivesse acontecido.
Senti um olhar cruzado demasiado imprevisivelmente.
Senti uma música silenciada pela força do momento.
Sinto fechar o sorriso num beijo.
Sinto fechar as mãos no teu corpo.
Sinto o momento a correr, sem ter tempo de o pausar, sem ter tempo de apreciar o que quer fosse dos teus lábios, sem ter tempo de perceber o teu toque nas minhas costas. Sinto o mundo andar à roda tão depressa quanto um cronómetro.
A pressa é, realmente, inimiga da perfeição. Onde já se viu, estragar um momento com todas as condições para ser perfeito, com a sua inconveniência e precipitação!
E eu sinto o tempo a fugir, sem energia para correr atrás dele. Sinto-me perder-te para uma agenda, para toda uma vida que não se cansa de chamar… Sinto que por muito que te agarrasse com força, para nos podermos saborear, o momento correria ainda com mais força. Sinto que por muito que te pedisse para esperar, o relógio avançaria sem demoras. Sinto que por muito que o nosso beijo se fosse tentando estender, o tempo não teria qualquer piedade… o fim chegaria sempre, sem qualquer remorso, sem delongas, como um jantar que fica pelas entradas, uma viagem que acaba ao chegar ao destino, um sonho que acaba quando o vives… como um doce que desaparece numa só dentada. Estávamos diante um prazo inflexível, uma data de validade irrevogável.
E desapareceste. De certa forma, ficaste para trás. E o momento foi tão volátil que nem o som dos teus lábios, o toque do teu olhar ou o brilho do teu beijo, eu pude trazer comigo.
Nem a sensação de aperto das tuas mãos na minha cintura eu conservei. Nem o chamar da tua voz eu me recordo. Emersei desse momento tão depressa quanto mergulhei nele, ou ainda mais rapidamente. Foi um suspiro fugaz e, logo agora que não sei de ti, o tempo já acalmou, o relógio já me respeita, a vida decorre sem grande pressa … e sinto os meus beijos com vontade de te encontrar.
Um dia desapareceste entre espuma branca e ondas altas, em direção a Sabe-se-lá-onde. Nesse momento, pensei-te navegante de outros mares para sempre, pensei-te explorador de outras costas, entusiasta de outras encostas, longe de qualquer vista mar.
Mas depois tu decidiste um regresso e aportaste no meu cais, de novo, quando te pensava entre ondas e marés. Aportaste no meu cais, talvez perdido de tormentosas tempestades, talvez oriundo de terras distantes, talvez, quem sabe, das profundezas do oceano, talvez indisposto da viagem, talvez sem saber onde o destino te traria.
Horas, dias, meses: o tempo que passara era-te desconhecido (na verdade, até para mim) e eu olhava para ti como se olhasse para o meu horizonte, sem saber como te acalmar deste teu fado impetuoso (se saber como me acalmar desta incerteza imprevisível), sem saber como esclarecer as dúvidas que terias, sem saber como te ler esse olhar impenetrável que diz o contrário do que os teus lábios pronunciam. A verdade é que, quando partiste, julguei-te perdido para sempre, julguei-me desprendida de ti, julguei solução as ruas mais distantes do porto de onde saíste e, agora, aqui estava eu: percorrendo todo o caminho de volta até à nossa margem, onde pensei nunca mais voltar e onde a altura da água é a mesma depois das lágrimas que lá deixei cair ao ver-te ir, passando pelas marcas da minha determinação deixadas na direção contrária nas pedras de calçada. A paisagem parece um pouco diferente agora que o teu barco está no cais: o sol parece mais brilhante, as ruas mais cheias de cor, as margens mais translúcidas.
E eu aqui, a esperar por te receber de novo neste teu regresso, rezando para que acredites que teremos a melhor vista mar do mundo inteiro.
ATENÇÃO: POST COM ALTA QUANTIDADE DE DOÇURA. DIETAS EM RISCO.
Acreditam em magia? Eu já acreditava, mas depois de descobrir este sítio, fiquei ainda mais convencida. A Velvet nasceu em 2015, digna de um conto de fadas, para trazer a Viseu “algo diferente”, fazer algo para a cidade e para o que as pessoas são, com doces de designs perfeitos, texturas aveludadas e sabores coloridos.
Sabem a pastelaria tradicional? Esqueçam! A Velvet é saborosamente inesperada. O principal ingrediente é o sabor. E depois usa outros “pózinhos” diferentes do habitual nas suas confeções: a paixão, que se saboreia em cada "bocadada" e o perfecionismo, porque “se é para fazer, é para fazer bem feito!” e isso vê-se em cada detalhe. E porque o que é da terra sabe sempre melhor, apadrinhar os produtos da região, abraçando a sustentabilidade local, é uma das prioridades. A Velvet não usa corantes ou intensificadores de sabor: usa produtos frescos, caseiros e de produtores locais sempre que possível, adaptando, assim, normalmente as criações à altura do ano.
A inspiração e os truques que tanto a destacam vêm dos grandes chefes de pastelaria e das experiências gastronómicas vividas pelos criadores desta marca, Marina Rebelo e Pedro Teixeira. No entanto, tudo o que veem associado à Velvet é fruto da persistência e do desejo de continuar a serem diferentes e de terem a sua própria identidade - missão, claramente, cumprida!
Os Cupcakes são a imagem de marca e as Pavlovas foram reconhecidas pela revista EVASÕES, mas a Velvet tem muito mais: tem gelados vegan, tem bolo de maçã e cheesecake cozido, tem limonadas e doces divertidos, tem texturas incríveis “que nos trazem as vivências”, tem sobremesas exclusivas espalhadas por espaços da cidade como o Home Sushi & Asian Food, tem sobremesas comemorativas da nomeação da cidade de Viseu como Destino Gastronómico 2019. E tem presença em muitos dias especiais, com confeções tailor made, criando “histórias em que as pessoas recordem o sabor e a diferença mas, em que essencialmente, recordem o dia”. E se acharam que alguma destas coisas é cliché, desafio-vos a visitarem e verem por vocês mesmos se o que foi utilizado para descrever a Velvet não se desfaz na vossa boca. Para mim, é paragem obrigatória.
Quanto à analogia a conto de fadas, se pensam que é exagerada, vejam a primeira imagem. A sério, visitem e tornem a vossa vida mais doce.
[bolo de batizado criado pela VELVET - imagem Velvet]
[ deliciosa pavlova VELVET]
[LA TANGERINE , primeira sobremesa destino Gastronomia de 2019 - imagem Velvet]